quarta-feira, 21 de setembro de 2016

80 - Europa 1815-1850

2.  A NOVA ONDA REVOLUCIONÁRIA (1820-1848)

                 A Restauração e o Concerto da Europa conseguiram evitar uma guerra entre as potências ocidentais por quase meio século, mas fracassaram no objetivo de manter o Antigo Regime e as novas fronteiras em algumas partes do continente. Além disso, a crise do antigo sistema colonial espanhol e português aprofundou-se. De fato, ainda durante as Guerras Napoleônicas iniciou-se o processo de independência da América Latina (1804-1825), que o Congresso de Viena não conseguiu impedir. O apoio da Grã-Bretanha e dos EUA, por sua vez, deixou a Santa Aliança impotente para intervir na região, que conseguiu se separar da Espanha e de Portugal. Na Europa, a herança da Revolução Francesa e do impacto da dominação napoleônica, o desenvolvimento da sociedade urbano-industrial e a expansão do liberalismo e do nacionalismo, acabariam desencadeando novas revoluções nacionalistas e liberais que desafiaram o sistema de Viena em 1820, 1830 e 1848.

2.1  A onda revolucionária europeia da década de 1820

                Os revolucionários carbonários (sociedades secretas revolucionárias) insurgiram-se na Espanha (1820-1822) e no Reino de Nápoles (1820-1821), mas fracassaram com a falta de apoio popular e a intervenção militar da Santa Aliança (França e Áustria). Na Grécia (1821-1829), o movimento insurrecional nacionalista contra a dominação turca foi vitorioso e conseguiu a independência do país. Para tanto foram decisivos o apoio dos bandoleiros e pastores helênicos, e a intervenção estrangeira (britânicos, franceses e russos) contra o Império Turco Otomano.

2.2 A onda revolucionária europeia de 1830

a)  Na França

Antecedentes. O Congresso de Viena apoiou a restauração da dinastia Bourbon e a ascensão do rei Luis XVIII (reinado 1814-1824), que encabeçou uma monarquia centralizada constitucional. O novo monarca procurou conciliar a nobreza e a burguesia, equilibrando-se entre os ultrarrealistas (defensores do absolutismo e dos privilégios aristocráticos) e os liberais. Com a morte de Luis XVIII, seu irmão Carlos X, líder dos ultrarrealistas, assumiu o trono (1824-1830) e tentou restaurar o absolutismo e favorecer a nobreza e a Igreja, entrando em confronto com os liberais. A insatisfação popular aumentou e o rei enviou uma expedição para conquistar a Argélia, em 1830, para desviar a atenção da crise política. A aventura colonial foi bem-sucedida, mas a oposição se radicalizou, precipitando uma nova revolução no país.
1830 – A Revolução de Julho. Derrubada de Carlos X (queda definitiva dos Bourbons) por uma revolução liberal popular. Instalação de uma monarquia parlamentarista com Luis Filipe, da dinastia Orleáns.

b) Em outros países

                A Revolução de Julho na França estimulou outras revoluções liberais e nacionalistas na Europa, sobretudo na Bélgica e Itália.
A Bélgica ficou independente da Holanda, com apoio da Grã-Bretanha e da França, adotando uma monarquia parlamentar.
Na Itália, fragmentada politicamente, as revoluções nacionalistas fracassaram (intervenção militar contra-revolucionária da Áustria). Na Alemanha, alguns monarcas tiveram que abdicar e constituições foram introduzidas. Na Polônia (domínio da Rússia), o movimento nacionalista assumiu o controle de Varsóvia, mas acabou sendo suprimido em 1831 pelos russos.
Também estimulou a luta dos liberais no Brasil contra o absolutismo de D. Pedro I.

2.2 A onda revolucionária europeia de 1848

                O movimento revolucionário de 1848, conhecido como a “Primavera dos Povos”, foi único na história da Europa: nunca tantas revoluções ocorreram de maneira tão simultânea e rápida como nesse período, só comparável à onda de democratização do Leste europeu em 1989-1991 com a queda dos regimes socialistas. Ele foi também um movimento de massas, dos trabalhadores pobres, que acabaram arrastando os liberais contra sua vontade. O centro da onda revolucionária de 1848 foi a França, mas as condições para a revolução eram mais generalizadas no continente:

Uma crise econômica em 1847-1848: colheitas insuficientes, escassez de alimentos, superprodução industrial, desemprego.
O crescimento do proletariado em uma situação de empobrecimento dos trabalhadores.
A expansão das idéias democratas radicais e socialistas utópicas.

a) Na França

Antecedentes. A Monarquia de Julho: o reinado de Luis Felipe (1830-1848). Era um regime baseado no liberalismo clássico (voto censitário, não-intervenção estatal), a “Era de Ouro” da burguesia francesa, sob hegemonia do setor financeiro. Expansão industrial, crescimento do proletariado e consolidação do domínio francês na Argélia, transformada na principal colônia da França. Quando estourou a crise econômica de 1847-1848, aumentou a pressão popular exigindo reformas democráticas, garantia de trabalho e direitos sociais. Nessa conjuntura, ocorreu a expansão das ideologias do radicalismo (democracia liberal com assistencialismo) e do socialismo utópico (Louis Blanc, defendendo fábricas ou oficinas estatais para os desempregados). O governo do primeiro-ministro liberal Guizot tentou proibir reuniões políticas da oposição, precipitando uma nova revolução.
A Revolução de Fevereiro. Nos dias 22-25 de fevereiro de 1848, a monarquia foi derrubada por um levante popular em Paris (abdicação de Luis Felipe) e a Segunda República Francesa proclamada. Um governo provisório foi instalado (fevereiro-maio), numa aliança entre liberais, radicais e socialistas utópicos, que, por pressão dos trabalhadores e da esquerda, estabeleceu oficinas estatais. Nas eleições para a Assembleia Constituinte em abril os republicanos moderados venceram, fortalecendo os liberais no governo provisório.
A Revolução de Junho. Em junho, o governo provisório fechou as oficinas estatais (eram deficitárias e incompatíveis com o ideal liberal que tentava se impor). A esquerda rompeu com o governo e, em 23-26 de junho, estourou uma insurreição dos trabalhadores de Paris e dos socialistas utópicos, sufocada pelo governo provisório (repressão do general Cavaignac).
A Segunda República (1848-1852). Instalada na Revolução de Fevereiro, foi confirmada pela constituição promulgada em novembro. A França se tornou uma democracia liberal, com sufrágio universal masculino. O sobrinho de Napoleão Bonaparte, Luis Napoleão (Charles Louis Napoleon Bonaparte), foi eleito presidente derrotando os liberais e socialistas.

b)  Em outros países

                 A crise econômica generalizada na Europa, a expansão das ideologias democrática e nacionalista no Ocidente e o exemplo dos acontecimentos políticos na França estimularam uma série de revoluções em outros países europeus – a “Primavera dos Povos” (1848-1849).
Itália: insurreições populares democráticas e nacionalistas (líderes Mazzini, Garibaldi) a favor da unificação italiana. Fracassam em razão do recuo da burguesia diante da radicalização popular, intervenções militares da França e da Áustria.
Alemanha: insurreições populares democráticas e nacionalistas a favor da unificação alemã, também fracassam diante do recuo dos liberais, que temiam a radicalização e a ação do proletariado.
Áustria: insurreições democráticas e nacionalistas a favor da independência dos povos eslavos e dos húngaros dominados pelos alemães austríacos, fracassam pelos mesmos motivos das outras revoluções (recuo dos liberais, intervenção militar russa)

3.  A GRÃ-BRETANHA EM 1815-1850

                 A Grã-Bretanha (mais precisamente o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda) era a maior potência econômica, colonial e naval do século XIX. Ela era a principal representante do liberalismo, destacando-se como defensora e propagadora do ideal do livre-comércio em todo o mundo. Do início do século XIX até a segunda metade do século XX, a Grã-Bretanha foi também a maior potência imperialista do mundo, dominando um gigantesco império colonial (a Índia era a principal colônia) – o mais extenso da história. O seu enorme poder financeiro e comercial e sua hábil política de alianças, visando o equilíbrio do poder na Europa, já podiam ser notados no século XVIII, mas foram ampliadas e aperfeiçoadas a partir de 1815 com a aceleração da Revolução Industrial (em que era pioneira), a consolidação do capitalismo e a derrota da França (a sua maior rival) nas Guerras Napoleônicas. A supremacia britânica traduziu-se na Pax Britannica – o quadro internacional de 1815-1914 caracterizado pela capacidade da Grã-Bretanha, por meio do seu poder econômico, diplomacia e influência, de manter a paz entre as grandes potências da Europa, evitando uma guerra generalizada no continente, embora não tenha conseguido impedir conflitos localizados envolvendo duas ou três potências, ou guerras de conquistas coloniais em outras partes do mundo (muitas partindo de sua própria iniciativa na Ásia, África e Oceania). O apogeu do poderio britânico coincidiu com o reinado da rainha Vitória (1837-1901) – a Era Vitoriana.
O Estado britânico. A Grã-Bretanha possuía um regime liberal com uma monarquia parlamentar (dinastia Hanover, 1714-1901), com o primeiro-ministro dependendo do Parlamento para conduzir o governo. Até a década de 1830, seu sistema político era oligárquico, baseado no voto censitário, que garantia o domínio de uma elite capitalista – um bloco heterogêneo de aristocratas (a nobreza dos lordes e da gentry, grandes proprietários rurais) e burgueses (banqueiros, grandes comerciantes e industriais). Porém, graças ao sistema eleitoral distorcido, a aristocracia agrária detinha a hegemonia no Parlamento e no governo. Dois partidos políticos se destacavam: o Tory (mais conservador e ligado à aristocracia) e o Whig (mais liberal e ligado à burguesia). Questões religiosas continuavam tendo um peso na política britânica, com os tories favorecendo a Igreja Anglicana e resistindo à concessão de direitos políticos plenos aos católicos e aos protestantes dissidentes. A oligarquia agrária também era intolerante em relação aos direitos dos trabalhadores (Lei da Associação, de 1799, proibindo sindicatos ou trade-unions). As reformas de 1820-1850, contudo, iniciaram o processo de democratização do regime. Na década de 1830, os tories originaram o Partido Conservador e os whigs o Partido Liberal. Ambos se revezaram no poder até o início do século XX. Em 1900, uma nova organização surgiu no cenário político britânico – o “Comitê de Representação Trabalhista”, de origem operária, sindical e socialista. Em 1906, o “Comitê” adotou o nome de Partido Trabalhista, o principal partido da esquerda britânica.
A pressão por reformas. Os tories governaram a Grã-Bretanha em 1807-1830, favorecendo os interesses da aristocracia, principalmente com medidas protecionistas contra a concorrência do trigo importado, mais barato (Leis do Trigo ou Corn Laws, 1815) – um protecionismo que encarecia o custo de vida e aumentava a pressão dos trabalhadores pela elevação dos salários. Os anos de 1810-1820 foram marcados pela agitação popular, com uma série de tumultos. Em 1811-1818, o Movimento Ludita (derivado de “Ned Ludd”) caracterizou-se pela destruição de máquinas pelos trabalhadores manuais e artesãos arruinados pela expansão da maquinofatura desencadeada pela Revolução Industrial. Em 1819, a repressão aos tumultos em Manchester (o Massacre de Peterloo) foi seguida de medidas autoritárias contra o crescimento das agitações populares. No entanto, a industrialização, a urbanização, o crescimento de novos grupos sociais (burguesia industrial, classe média, proletariado) e a expansão das ideias radicais (soberania popular, igualdade política) em um contexto de aumento das desigualdades sociais e da pobreza, resultaram no aparecimento de um movimento por reformas democráticas que acabaram reduzindo o poder tradicional da aristocracia – sem uma revolução e sem destituí-la do poder (ela perdeu a hegemonia e a direção do Estado, mas continuou participando do sistema político). As reformas ampliaram a tolerância religiosa, o direito de voto e a participação política, além de estabelecerem o livre-comércio. Iniciadas pelos “jovens tories” (a ala moderada do governo tory: Robert Peel, George Canning) em 1822-1829, as reformas foram ampliadas pelo governo whig ou liberal em 1830-1841, continuaram com os conservadores em 1841-1846 e nas décadas seguintes novamente pelos liberais Os principais momentos das reformas foram:
– 1824. Reconhecimento dos sindicatos
– 1828. Abolição das restrições políticas aos protestantes dissidentes
– 1829. Emancipação Católica: os católicos adquirem plenos direitos políticos.
– 1832. Primeiro Ato de Reforma: modificou o sistema eleitoral em benefício do eleitorado urbano, que foi ampliado (extensão do voto à classe média). A burguesia industrial passou a controlar o Parlamento em detrimento da aristocracia.
– 1833. Primeira Lei das Fábricas: limitação da jornada do trabalho infantil, inspeções governamentais.
– 1833. Abolição da escravidão
– 1834. Lei dos Pobres. Reunião dos pobres em oficinas públicas responsáveis pelos assistencialismo (mas as condições de vida eram péssimas).
– 1839-1848. Movimento Cartista. O primeiro programa político do movimento operário, reivindicava o sufrágio universal, o voto secreto e a democracia por meio de petições nacionais que recolheram 1,3 milhões de assinaturas Tumultos ocorreram em algumas cidades mas o Cartismo fracassou.
– 1846. Fim da Lei do Trigo. Introdução do livre-comércio, triunfo do liberalismo econômico (a “Escola de Manchester”)
– 1867 e 1884. Novos Atos de Reforma. Extensão do voto à amplos setores dos trabalhadores urbanos e, principalmente, dos trabalhadores rurais.


QUADRO 1


A QUESTÃO IRLANDESA

            A Irlanda foi a primeira colônia da Inglaterra. O país começou a ser conquistado pelos ingleses no século XIII, mas a dominação efetiva só ocorreu a partir do século XVII. O domínio britânico (protestante) gerou muita resistência e rebeliões dos irlandeses (católicos), a mais séria em 1798. Para tentar integrar os irlandeses ao Estado britânico e eliminar seu espírito separatista, foi feito o Ato de União (1800), estabelecendo o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. Mas como a maioria da população era católica e os católicos estavam excluídos da participação política, a insatisfação continuou, diminuindo um pouco com a Emancipação Católica (1829). Contudo, o nacionalismo irlandês, as históricas rivalidades religiosas e o ressentimento com o fato dos britânicos controlarem muitas terras dificultavam a aceitação da União. A situação se agravou em 1845-1846 com a Grande Fome Irlandesa, precipitada pela praga nas plantações de batata (alimento básico dos pobres): de uma população de 8,3 milhões, 1 milhão morreram e outro 1 milhão emigrou para os EUA. A comunidade irlandesa nos EUA fundou em 1858 a sociedade secreta dos Fenianos, com objetivo de obter a independência da Irlanda por métodos violentos. Os Fenianos desfecharam ataques no Canadá e na Grã-Bretanha na década de 1860, mas a organização não conseguiu apoio popular e fracassou (o IRA ou Exército Republicano Irlandês, criado em 1919, reviveu os objetivos e métodos dos Fenianos). Nas últimas décadas do século XIX, emergiu o movimento pela autonomia política da Irlanda dentro do Reino Unido (a Home Rule), baseada na criação de um Parlamento irlandês. No entanto, essa proposta enfrentou muita resistência da comunidade protestante na Irlanda que, por ser minoria, temia ser governada pela maioria católica. A Home Rule acabou sendo instituída em 1921 depois da Guerra Anglo-Irlandesa (1919-1921), mas com a divisão da Irlanda: o sul e centro viraram o Estado Livre da Irlanda (maioria católica), com um Parlamento na capital Dublin, separado do norte ou Ulster (maioria protestante), com capital em Belfast. Mas a essa altura, os irlandeses católicos reivindicavam uma autonomia maior. O movimento republicano cresceu na década de 1930 no Estado Livre da Irlanda, que adotou o nome de Eire em 1936. Em 1949, o Eire proclamou a independência com o nome de República da Irlanda, reconhecida pela Grã-Bretanha. Mas os confrontos entre os nacionalistas católicos e os protestantes cresceram no Ulster (que continuou sendo parte do Reino Unido) na segunda metade do século XX, destacando-se as ações terroristas do IRA (que deseja a independência do país para uni-lo ao Eire) e de organizações anticatólicas (contrárias ao separatismo).

quarta-feira, 22 de junho de 2016

79 - Imigração no Império

Um texto sobre imigração para ajudá-los na prova
No Segundo Reinado, percebemos que as estruturas das relações de trabalho no Brasil foram sofrendo importantes transformações. Mediante a insistente pressão das autoridades britânicas, o governo imperial foi incorporando ações que impediam a expansão do trabalho escravo. Já com a expressa proibição do tráfico negreiro, em 1850, os grandes cafeicultores foram tendo enormes dificuldades para adquirir mão de obra capaz de suprir a sua demanda.

Uma das primeiras alternativas lançadas para tal impasse foi o chamado tráfico interprovincial de escravos. Nesse caso, os grandes fazendeiros da região sudeste adquiriam os escravos ociosos localizados na região nordeste. A disponibilidade dessa mão de obra ocorreu devido à crise agrícola que atingiu os produtores nordestinos, principalmente pela diminuição do preço obtido na comercialização da cana de açúcar, do algodão e do fumo.

Segundo algumas estimativas, essa prática foi responsável pelo deslocamento de aproximadamente 200 mil escravos pelo território brasileiro. Contudo, essa solução logo se mostrou ineficaz com a crescente expansão das lavouras de café. Em pouco tempo, a grande demanda por escravos acabou os transformando em uma mercadoria de alto valor que encurtava o lucro dos cafeicultores. Dessa forma, o emprego da mão de obra imigrante europeia se transformou na alternativa mais barata e viável.



O primeiro a empregar a mão de obra assalariada dos europeus foi o senador e fazendeiro Nicolau de Campos Vergueiro. Entre os anos de 1847 e 1857, ele trouxe várias famílias de origem portuguesa, alemã, suíça e belga para trabalharem em sistema de parceira. Nesse tipo de acordo, o proprietário de terras pagava todas as despesas com a viagem e a acomodação dos empregados. Ao chegar aqui, o colono estrangeiro trabalhava até saldar suas dívidas e participava nos lucros obtidos na plantação.

Em pouco tempo outros fazendeiros copiaram essa mesma estratégia na obtenção de mão de obra. Vale destacar que, acostumados com a exploração dos escravos, muitos cafeicultores impuseram condições de trabalho desvantajosas aos colonos. A partir da década de 1870, a entrada de trabalhadores europeus no Brasil passou a ser oficialmente organizada pelo governo. Aproveitando das conturbações políticas no Velho Mundo, o império propagandeava as oportunidades de trabalho existentes no Brasil.

Além de atender uma demanda econômica, a entrada de imigrantes no Brasil integrava um ambicioso projeto de engenharia social dos intelectuais dessa época. Tomando a Europa como um grande modelo a ser copiado, muitos pensadores e políticos acreditavam que a imigração abriria portas para o gradual “branqueamento” da população brasileira. Nesse sentido, projetava-se a expectativa racista de diminuir a “negativa” presença de negros e mulatos na formação do povo brasileiro.

Por Rainer Sousa

78 - Segundo Reinado

Um texto para ajudá-los na prova

O Segundo Reinado iniciou-se com a declaração de maioridade de Dom Pedro II, realizada no dia 23 de julho de 1840. Na época, o jovem imperador tinha apenas quatorze anos de idade e só conseguiu ocupar o posto máximo do poder executivo nacional graças a um bem arquitetado golpe promovido pelos grupos políticos liberais. Até então, os conservadores (favoráveis à centralização política) dominaram o cenário político nacional.


Antes do novo regime monárquico, o período regencial foi caracterizado por uma política conservadora e autoritária que fomentou diversas revoltas no Brasil. As disputas políticas do período e o desfavor promovido em torno do autoritarismo vigente permitiram que a manobra em favor de Dom Pedro de Alcântara tivesse sustentabilidade política. Nos quarenta e nove anos subsequentes o Brasil esteve na mão de seu último e mais longevo monarca.

Para contornar as rixas políticas, Dom Pedro II contou com a criação de dispositivos capazes de agraciar os dois grupos políticos da época. Liberais e conservadores, tendo origem em uma mesma classe socioeconômica, barganharam a partilha de um poder repleto de mecanismos onde a figura do imperador aparecia como um “intermediário imparcial” às disputas políticas. Ao mesmo tempo em que se distribuíam ministérios, o rei era blindado pelos amplos direitos do irrevogável Poder Moderador.

A situação contraditória, talvez de maneira inesperada, configurou um período de relativa estabilidade. Depois da Revolução Praieira, em 1847, nenhuma outra rebelião interna se impôs contra a autoridade monárquica. Por quê? Alguns historiadores justificam tal condição no bom desempenho de uma economia impulsionada pela ascensão das plantações de café. No entanto, esse bom desempenho conviveu com situações delicadas provindas de uma economia internacional em plena mudança.

O tráfico negreiro era sistematicamente combatido pelas grandes potências, tais como a Inglaterra, que buscava ampliar seus mercados consumidores por aqui. A partir da segunda metade do século XIX, movimentos abolicionistas e republicanos ensaiavam discursos e textos favoráveis a uma economia mais dinâmica e um regime político moderno e inspirado pela onda republicana liberal.

Após o fim da desgastante e polêmica Guerra do Paraguai (1864 – 1870), foi possível observar as primeiras medidas que indicaram o fim do regime monárquico. O anseio por mudanças parecia vir em passos tímidos ainda controlados por uma elite desconfiada com transformações que pudessem ameaçar os seus antigos privilégios. A estranha mistura entre o moderno e o conservador ditou o início de uma república nascida de uma quartelada desprovida de qualquer apoio popular.

Por Rainer Sousa

77 - Guerra do Paraguai

Um bom texto da Guerra do Paraguai para auxiliá-los na prova.

No século XIX, as nações americanas emancipadas após a crise do sistema colonial se lançaram ao desafio de estabelecerem a soberania política e econômica de seus territórios. Essa seria uma tarefa bastante difícil, pois passados séculos de dominação colonial, esses novos países teriam que enfrentar os desafios estabelecidos pelo capitalismo industrial e financeiro do período.
Segundo alguns estudiosos, o processo de independência das nações latino-americanas não significou o fim da subserviência política e da dependência econômica. Sob outros moldes, esses países ainda estavam presos a instituições corruptas e à antiga economia agroexportadora. Contrariando essa tendência geral, durante o século XIX, o Paraguai implementou um conjunto de medidas que buscavam modernizar o país.

Nos governos de José Francia (1811-1840) e Carlos López (1840-1862) o analfabetismo foi erradicado do país e várias fábricas foram instaladas com o subsídio estatal. Além disso, melhorou o abastecimento alimentício com uma reforma agrária que reestruturou a produção agrícola paraguaia ao dar insumos e materiais para que os camponeses produzissem. Esse conjunto de medidas melhorou a condição de vida da população e fez surgir uma indústria autônoma e competitiva.

No ano de 1862, Solano López chegou ao poder com o objetivo de dar continuidade às conquistas dos governos anteriores. Nessa época, um dos grandes problemas da economia paraguaia se encontrava na ausência de saídas marítimas que escoassem a sua produção industrial. Os produtos paraguaios tinham que atravessar a região da Bacia do Prata, que abrangia possessões territoriais do Brasil, Uruguai e Argentina.

Segundo alguns historiadores, essa travessia pela Bacia do Prata era responsável, vez ou outra, pela deflagração de inconvenientes diplomáticos entre os países envolvidos. Visando melhorar o desempenho de sua economia, Solano pretendia organizar um projeto de expansão territorial que lhe oferecesse uma saída para o mar. Dessa maneira, o governo paraguaio se voltou à produção de armamentos e a ampliação dos exércitos que seriam posteriormente usados em uma batalha expansionista.

No entanto, outra corrente historiográfica atribuiu o início da guerra aos interesses econômicos que a Inglaterra tinha na região. De acordo com essa perspectiva, o governo britânico pressionou o Brasil e a Argentina a declararem guerra ao Paraguai alegando que teriam vantagens econômicas e empréstimos ingleses caso impedissem a ascensão da economia paraguaia. Com isso, a Inglaterra procurava impedir o aparecimento de um concorrente comercial autônomo que servisse de modelo às demais nações latino-americanas.

Sob esse clima de tensão, a Argentina tentava dar apoio à consolidação de um novo governo no Uruguai favorável ao ressurgimento do antigo Vice Reinado da Prata, que englobava as regiões da Argentina, do Paraguai e Uruguai. Em contrapartida, o Brasil era contra essa tendência, defendendo a livre navegação do Rio da Prata. Temendo esse outro projeto expansionista, posteriormente defendido por Solano López, o governo de Dom Pedro II decidiu interceder na política uruguaia.

Após invadir o Uruguai, retaliando os políticos uruguaios expansionistas, o governo brasileiro passou a ser hostilizado por Solano, que aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda. Com esse episódio, o Brasil decidiu declarar guerra ao Paraguai. A Inglaterra, favorável ao conflito, concedeu empréstimos e defendeu a entrada da Argentina e do Uruguai na guerra.

Em 1865, Uruguai, Brasil e Argentina formaram a Tríplice Aliança com o objetivo de aniquilar as tropas paraguaias. Inicialmente, os exércitos paraguaios obtiveram algumas vitórias que foram anuladas pela superioridade do contingente militar e o patrocínio inglês da Tríplice Aliança.

Mesmo assim, as boas condições estruturais e o alto grau de organização dos exércitos paraguaios fizeram com que a guerra se arrastasse por cinco anos. Somente na série de batalhas acontecidas entre 1868 e 1869, que os exércitos da Tríplice Aliança garantiram a rendição paraguaia.

O saldo final da guerra foi desastroso. O Paraguai teve cerca de 80% de sua população de jovens adultos morta. O país sofreu uma enorme recessão econômica que empobreceu o Paraguai durante muito tempo. Com o final da guerra, o Brasil conservou suas posses na região do Prata.

Em contrapartida, o governo imperial contraiu um elevado montante de dívidas com a Inglaterra e fez do Exército uma instituição interessada em interferir nas questões políticas nacionais. A maior beneficiada com o conflito foi a Inglaterra, que barrou o aparecimento de uma concorrente comercial e lucrou com os juros dos empréstimos contraídos.
Por Rainer Sousa
Mestre em História

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

76 - O Estado Islâmico é islâmico sim

O ESTADO ISLÂMICO É ISLÂMICO SIM

A primeira coisa que os chamados líderes moderados do maometismo (islamismo) e os intelectuais, os políticos e a mídia politicamente correta do Ocidente dizem quando ocorre um atentado terrorista praticado por maometanos (muçulmanos) radicais é que esses terroristas não são de fato islâmicos, que não seguem o verdadeiro islamismo, que os seus atos não têm respaldo no Alcorão e que seriam condenados por Maomé. O Islã, afirmam os muçulmanos "moderados", é uma religião da paz e tolerância. O terrorismo islâmico é resultado de uma leitura distorcida do Alcorão, insistem.

Acontece que existem sim diversos versículos nos capítulos (suras) do Alcorão que respaldam as ações do Estado Islâmico e de outras organizações revolucionárias praticantes do jihadismo (luta armada maometana), como a Al-Qaeda e os grupos do movimento talibã. O Novo Testamento, que contém a essência da doutrina cristã, também é objeto de controvérsias teológicas e de várias interpretações (basta lembrar a cisão entre católicos e protestantes e entre os próprios protestantes), mas não há nessa coleção de livros a defesa da violência como aparece tão frequentemente no Alcorão. Além disso, o Novo Testamento é considerado pelos cristãos um livro escrito por homens inspirados por Deus, com trechos que reproduzem as palavras de Jesus, a encarnação de Deus. Mesmo divinamente inspirados, esses homens estavam sujeitos a erros ou incompreensão da mensagem original. O Alcorão, por sua vez, é considerado pelos maometanos (muçulmanos) a reprodução literal das palavras de Deus transmitidas a Maomé, seu mensageiro, por intermédio do anjo Gabriel. Ali estão contidas as ordens diretas de Deus, segundo o islamismo. E entre essas ordens ou orientações está a defesa da violência contra não muçulmanos de uma forma disseminada que não existe no Novo Testamento. É difícil sustentar que o conteúdo desses textos alcorânicos precisa ser analisado de forma relativa ou que precisam ser contextualizados. Eles podem sim justificar a violência do terrorismo islâmico contra não muçulmanos e contra os próprios muçulmanos. 

Veja abaixo os versículos que justificam essa violência. Eles foram retirados da aclamada tradução do Alcorão feita diretamente do árabe por Mansour Challita (Editora Associação Internacional Gibran, sem data). Entre parênteses aparece o número do capítulo ou sura, seguido do versículo:

1. O ALCORÃO, A PALAVRA DE DEUS

Revelamos-te o Livro com a verdade para que julgues entre os homens conforme o que Deus te mostrou. Mas não sejas para os pérfidos um defensor. (4: 105)

Enviamos-lhes um Livro sabiamente elucidado: uma orientação e uma misericórdia para os crentes. (7: 52)

É uma blasfêmia atribuir este Alcorão a outro que não a Deus. Ele é a confirmação do que o precedeu e a elucidação do Livro incontestável do Senhor dos mundos. (10: 37)

Procuraria eu um árbitro fora de Deus quando é Ele que vos revelou o Livro com todos os detalhes? Aqueles a quem revelamos o Livro sabem que ele emana de teu Senhor, com a verdade. Não sejas, pois, um dos que duvidam. (5: 114)

Perfeitas são as palavras de teu Senhor, na justiça e na verdade. Ninguém as pode modificar. Ele ouve tudo e sabe tudo. (5: 115)

Será que não meditam sobre o Alcorão? Se não fosse enviado por Deus, encontrariam nele muitas contradições. (4: 82)

E obedecei a Deus e obedecei ao Mensageiro e acautela-vos. Se virardes as costas e vos afastardes, sabei que a Nosso Mensageiro só incumbe transmitir claramente a mensagem. (5: 92)

2. O CONVÍVIO COM OS NÃO MUÇULMANOS

Ó vós que credes, não tomeis por aliados os judeus e os cristãos. Que sejam aliados uns dos outros. Quem de vós os tomar por aliados é deles. Deus não guia os iníquos. (5: 51)

Ó vós que credes, não adoteis por amigos os que, tendo recebido o Livro antes de vós, tratam vossa religião de divertimento e objeto de escárnio, e não adoteis por amigos os descrentes. E temei a Deus se sois crentes. (5: 57)

Desejariam que fôsseis descrentes como eles: então todos seríeis iguais. Não tomeis amigos dentre eles até que emigrem para Deus. Se virarem as costas e se afastarem, capturai-os e matai-os onde quer que os acheis. E não tomeis nenhum deles por confidente ou aliado. (4: 89)

Aqueles que preferem a amizade dos descrentes à dos crentes, que esperam? A grandeza? Toda grandeza pertence a Deus. (4: 139)

Ó vós que credes, não prefirais a amizade dos descrentes à dos crentes. Quereis dar a Deus uma prova pública contra vós? (4: 144)

Deus vos recomendou no Livro de não vos sentardes com os que conversam de Suas revelações, rejeitando-as e desrespeitando-as até que mudem de assunto. Se o fizerdes, sereis como eles. Deus juntará na Geena [Inferno] os hipócritas e os descrentes. (4: 140)

3. A GUERRA SANTA E O TRATAMENTO AOS NÃO MUÇULMANOS

Combate, pois, pela causa de Deus. És responsável apenas por ti mesmo. E exorta os crente. Queira Deus  conter a força dos descrentes! Deus é mais forte e o mais rigoroso no castigo. (4:84)

Esses versículos, em especial, condenam os muçulmanos moderados ou acomodados e justificam a militância violenta dos jihadistas: Não há igualdade entre os crentes que permanecem em casa, sem serem inválidos, e os que combatem e arriscam bens e vida a serviço de Deus. Deus eleva os que lutam por Ele com seus bens e sua vida um grau acima dos outros. A todos, Deus promete excelente recompensa, mas conferirá aos combatentes paga superior à dos que permanecem em casa. (4: 95). Ó vós que credes, que vos sucede quando vos dizem: "Parti ao combate pela causa de Deus" e vós permaneceis imóveis como pegados à terra? Preferis a vida terrena ao Além? Os gozos da vida terrena são insignificantes comparados com os gozos do Além (9: 38). Se não combaterdes, Deus vos imporá um castigo doloroso e vos substituirá por outros, e em nada vós O prejudicareis. Deus tem o poder sobre tudo. (9: 39).

Ó vós que credes, temei a Deus e procurai aproximar-vos d'Ele e lutai pela Sua causa. E possais vencer. (5: 35)

Ó vós que credes, quando encontrardes os descrentes prontos para a guerra, não lhes volteis as costas. (8: 15). Quem lhes voltar as costas - a menos que seja por estratagema ou para juntar-se a outro grupo - incorrerá na ira de Deus, e sua morada será a Geena [Inferno] (8: 16). Na realidade, não foste vós que o matastes: foi Deus quem os matou; e não foste tu que atiraste as flechas quando atirastes: foi Deus quem aturou. Fê-lo para conferir aos crentes um justo benefício. Ele ouve tudo e sabe tudo. (8: 17) Este versículo justifica atentados terroristas como tendo sido guiados pela mão de Deus.

O castigo dos que fazem a guerra a Deus e a seu Mensageiro e semeiam a corrupção na terra é serem mortos ou crucificados ou terem as mãos e os pés decepados, alternadamente, ou serem exilados do país: uma desonra neste mundo e um suplício no Além (5: 33) Este versículo justifica as atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico sobre os prisioneiros não muçulmanos.

Dize aos descrentes que, se se emendarem, o passado ser-lhes-á perdoado. E se reicindirem, que contemplem o exemplo dos antigos! Deus os observa. (8: 38). E combatei-os até que não haja mais idolatria e que a religião pertença exclusivamente a Deus. Se desistirem, Deus observa o que fazem. (8: 39)

4. MATAR MUÇULMANOS

Não pode um crente matar outro crente, a não ser por engano (4: 92). Quem matar um crente com premeditação, seu castigo será a Geena [Inferno] onde permanecerá para todo o sempre, e a cólera de Deus, e a Sua maldição, e um terrível suplício (4: 93). A morte de muçulmanos por outros muçulmanos pode ser justificada como acidental ("baixas colaterais", "fogo amigo"). Mas os jihadistas podem também dizer que os muçulmanos mortos não eram verdadeiros muçulmanos, que eram apóstatas ou traidores do islamismo.



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

75 - Tópicos de estudo da 5 etapa

Tópicos de estudo da 5 etapa

BRASIL

INDEPENDÊNCIA
PRIMEIRO REINADO
PERÍODO REGENCIAL
SEGUNDO REINADO E ABOLICIONISMO
QUEDA DA MONARQUIA
REPÚBLICA DA ESPADA

GERAL

DÉCADA SANGRENTA (ANOS 1860)
Guerras nacionalistas na Itália, EUA, México e Alemanha
Motivos, características e consequências desses conflitos nacionalistas

IMPERIALISMO NA ÁFRICA

FONTES DE ESTUDO

ESQUEMAS DAS AULAS
CADERNO 1 FRENTE A (cap. 1,2 e 3) e FRENTE B (cap. 1 e 2)