HISTÓRIA DO BRASIL
UNIDADE 1 - O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA
(1789-1822)
A independência
do Brasil foi um episódio dos movimentos de independência da América Latina no
contexto da Era das Revoluções (1770-1850) e da crise do Antigo Sistema
Colonial, nas primeiras décadas da Idade Contemporânea. Como na América
Espanhola, os colonos favoráveis à independência brasileira foram influenciados
pelo Iluminismo e pelas ideias liberais (direitos individuais, constitucionalismo,
liberdade econômica), pela Revolução Americana e pela Revolução Francesa. As
Guerras Napoleônicas na Europa, no começo do século XIX, aprofundaram a crise
do antigo sistema colonial, precipitando a independência de vários países latino-americanos.
1. Portugal e seu império colonial na América
em 1750-1800
1.1 O Brasil
No final do
século XVIII, o Brasil era a principal colônia
de Portugal. Chamado oficialmente de Vice-Reino do Brasil, a América Portuguesa
possuía, em 1800, cerca de 3,3 milhões de habitantes.
A maior cidade era o Rio de Janeiro, a capital, com 50 mil moradores (em
Salvador viviam 40 mil pessoas e em São Paulo 20 mil). Como as demais sociedades
da época (com exceção da britânica, que estava se industrializando rapidamente),
a sociedade colonial brasileira era tradicional ou pré-industrial. A economia era
fundamentalmente agrária, a maioria da população vivia no meio rural, as
famílias eram patriarcais, o analfabetismo predominava (85% ou mais da população
não sabiam ler e escrever) e havia uma acentuada religiosidade, com o destaque
para a forte presença da Igreja Católica na vida social. Contudo, o traço mais marcante da sociedade colonial
na época era a escravidão negra (em
1800, 1,5 milhão de pessoas eram escravas, grande parte delas nascidas na
África) – uma brutal modalidade de trabalho compulsório herdada da colonização
portuguesa, que se transformou no principal entrave para o progresso econômico,
social e cultural do Brasil no século XIX. De fato, a escravidão nasceu associada
ao setor agroexportador, o mais dinâmico da economia colonial nos séculos
XVI-XVII, e avançou na época da mineração do ouro no século XVIII. Apesar do declínio da mineração (de 1760 em diante),
a economia prosperou com o chamado "Renascimento Agrícola" – a nova expansão
da agricultura de exportação de açúcar, algodão, café, fumo. Na época da independência, o setor agroexportador (açúcar,
algodão, fumo, café), baseado no latifúndio e na escravidão (as plantations escravistas), continuava
sendo o motor da economia brasileira. Consequentemente, a elite econômica e
política era composta por uma aristocracia rural (grandes proprietários de
terras e de escravos) e pelos ricos comerciantes urbanos do setor de exportação-importação,
incluindo os traficantes de escravos africanos.
No
entanto, a economia nacional não se resumia ao setor agroexportador e nem a
escravidão era utilizada apenas pela elite agrária. Desde o início do período
colonial, formou-se um mercado interno no país, com uma dinâmica própria,
ligada a produção de alimentos, a
indústria artesanal popular (a proibição de manufaturas por Portugal em
1785 não eliminou o artesanato voltado para as camadas mais pobres) e a
diversos serviços. A estrutura agrária não era composta apenas por latifúndios.
Além das grandes propriedades, existiam médias e pequenas propriedades rurais,
produzindo para o abastecimento interno ou para a subsistência. As cidades eram
relativamente pequenas, mas muitos dos seus habitantes, inclusive uma incipiente
classe média urbana (profissionais liberais, pequenos comerciantes,
funcionários públicos) viviam em função do mercado interno e não do externo. Os
escravos não eram os únicos trabalhadores nem eram a maioria da população,
embora fossem a principal mão de obra empregada pelas elites econômicas. Contudo,
a escravidão estava tão disseminada que praticamente todas as famílias das
camadas médias e muitas das camadas baixas possuíam pelo menos um escravo ou
escrava, utilizado nos serviços domésticos ou como auxiliares em diversas
profissões. O resultado foi um complexo quadro que combinou miscigenação
racial, sincretismo religioso (tradições católicas europeias combinadas com as
tradições religiosas africanas), desprezo pelo trabalho manual, costume das
famílias livres não ricas em utilizar trabalhadores domésticos e racismo em
alguns setores da população branca.
1.2 Portugal
O Reino de Portugal no século XVIII era uma potência
decadente, cada vez mais fraca e dependente da Grã-Bretanha em termos
econômicos e militares. Sob
influência do Iluminismo e buscando recuperar o seu prestígio e poder, o Estado
português, governado pela dinastia Bragança, assumiu a forma de um despotismo esclarecido – uma monarquia
absolutista reformista “racional”, que aplicava medidas de modernização,
reorganizando o mercantilismo. O objetivo era tirar Portugal do seu atraso.
O Reinado de D. José I (1750-1777)
D. José I,
monarca absolutista, delegou as tarefas de governo para o seu ministro Marquês de Pombal (Sebastião José de
Carvalho e Melo), que, concentrando poder em nome do rei, ampliou a centralização
administrativa (chocando-se com a nobreza lusa), aumentou os impostos e buscou
limitar a influência comercial dos britânicos. No Brasil, a política pombalina caracterizou-se por um maior
controle sobre a colônia, destacando-se as seguintes medidas:
– fortalecimento dos vice-reis;
– extinção das capitanias hereditárias (1759);
– transferência
do capital do Estado do Maranhão (que abrangia todo o Norte do país desde o
Ceará) de São Luís para Belém (1751), para controlar a Amazônia;
– transferência
da capital do Estado do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro (1763);
– criação de novas companhias comerciais monopolistas;
– extinção do
imposto da capitação, na região de mineração, substituído pela derrama: cobrança da diferença quando o
quinto não atingisse a cota de 100 arrobas anuais (1500 kg), inclusive com
confisco de bens e objetos de ouro;
– abolição da
escravidão indígena (1755) e criação do Diretório dos Índios (1755),
instituição encarregada da administração e instrução dos nativos;
– expulsão dos jesuítas
(1759).
Foi no reinado de D. José I que ocorreu a maior catástrofe da história
de Portugal no século XVIII: o terremoto
de Lisboa (1 de novembro de 1755), seguido de um tsunami que matou 30 mil
pessoas de uma população de 200 mil que viviam na capital portuguesa.
O reinado de D. Maria I (1777-1816)
Com a morte de
D. José I em 1777, o trono português foi assumido pela sua filha D. Maria I. A
nova monarca destituiu o Marquês de
Pombal e suprimiu as companhias comerciais. Mas a política de intensificação do
mercantilismo continuou com o lançamento do Alvará de 1785 que proibia indústrias no Brasil. Em 1799, o filho e
herdeiro de D. Maria I, D. João, assumiu oficialmente a monarquia portuguesa na
condição de príncipe-regente devido aos problemas mentais de sua mãe (que passou
a ser chamada de "Maria, a Louca").
1.3 Os primeiros movimentos de independência
(1785-1800)
Em 1680-1720,
os movimentos nativistas criticavam alguns aspectos do sistema colonial mas não
desejaram a independência. No entanto, no final do século XVIII, no quadro de
crise do Antigo Sistema Colonial e de um sentimento de aumento da opressão
metropolitana emergiram movimentos, na forma de conspirações republicanas, com
a intenção de separar o Brasil ou parte do território português na América de
Portugal.
A Inconfidência Mineira (1789). A Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira costuma ser
considerada o primeiro movimento de independência do Brasil. A Inconfidência
foi uma conspiração separatista da elite mineira (entre os inconfidentes estavam
os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga), motivada pelo
descontentamento com os monopólios e impostos (sobretudo a derrama), pela
impopularidade dos governadores de MG (Luís da Cunha Meneses e o Visconde de
Barbacena) e pela influência do Iluminismo e da Revolução Americana. Os
inconfidentes propunham a criação de uma república, com capital em São João Del
Rei, de uma universidade em Vila Rica e de fábricas. A maioria dos
conspiradores desejava manter a escravidão. O movimento fracassou: o plano foi
mal executado e um dos conspiradores, Joaquim Silvério dos Reis, traiu os
demais inconfidentes, que foram presos (maio, 1789). O único executado foi o
alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes
(21 de abril, 1792).
A Conjuração do Rio de Janeiro (1794). A Inconfidência Mineira fez com que as autoridades portuguesas
aumentassem a vigilância sobre os colonos, principalmente os mais letrados (supostamente
mais influenciados pelas idéias críticas iluministas). Nessa época foi criada no Rio de Janeiro a Sociedade Literária,
uma reunião semiclandestina de intelectuais cariocas para discutir o pensamento
político dos iluministas. Sua principal figura era Manuel Inácio da Silva
Alvarenga. Não houve conspiração separatista desse círculo literário. Mesmo
assim, alarmadas, as autoridades portugueses prenderam os seus membros.
A Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates
(1798). Em termos de composição social e proposta
política, foi o mais radical dos movimentos separatistas do período. A
conjuração foi composta pelas camadas pobres, como artesãos (“alfaiates”), a
maioria mulatos, negros alforriados e escravos. Em um contexto de decadência
econômica de Salvador, a conspiração foi motivada pelo descontentamento com os
impostos excessivos e abusos fiscais, pela influência do Iluminismo, da
Revolução Francesa e da Revolução Haitiana (uma revolução dos mulatos e
escravos negros) e pela difusão do jacobinismo (republicano radical popular)
pela sociedade secreta dos Cavaleiros da Luz (uma loja maçônica). Os conjurados
tinham a intenção de criar uma república popular e abolir a escravidão.
Entretanto foram feitas denúncias que culminaram na prisão dos envolvidos e na
execução dos mais humildes (Lucas Dantas, Luiz Gonzaga, João de Deus e Manuel
Faustino), em 08 de novembro de 1799.
A Conspiração dos Suaçunas (1801). Essa conspiração foi um movimento de elites de Olinda, Pernambuco,
sob influência de sociedades secretas maçônicas (o Areópago de Itambé) que divulgaram
o liberalismo e chegaram a entrar em contato com o governo francês (Napoleão
Bonaparte) em busca de apoio internacional. Fracassou: os conspiradores foram
presos e depois absolvidos.
2. A transferência do Estado Português para o
Brasil (1808-1821)
2.1 A invasão de Portugal pelos franceses e
espanhóis
Em 1806,
Napoleão Bonaparte, em guerra na Europa, lançou o Bloqueio Continental contra a
Grã-Bretanha, proibindo os europeus de praticarem comércio com os britânicos.
Portugal, dependente desse comércio, oficialmente aderiu ao bloqueio mas, na
prática, rompeu-o tolerando o contrabando. Em novembro de 1807, Portugal foi
invadido pelos franceses, com apoio da Espanha, resultando na fuga da Corte portuguesa – a família
real encabeçada pelo príncipe regente D. João (rei D. João VI em 1816-1826) – e
15 mil pessoas (funcionários, nobres, militares) para o Brasil, escoltados
pelos britânicos. Em janeiro de 1808 ela aportou em Salvador, na Bahia, e, em
março, se instalou no Rio de Janeiro, transformado na nova sede do Estado
português.
2.2 O Governo de D. João VI no Brasil
(1808-1821)
D. João fez uma
série de reformas que alteraram as relações do Brasil com Portugal. Entre as
medidas econômicas, destacaram-se:
A Abertura dos Portos (28 janeiro 1808). Abertura comercial do Brasil com as “nações amigas de Portugal”.
Representou o fim do pacto-colonial (prejudicando os comerciantes de Portugal)
e o início do livre-comércio (favorecendo as elites brasileiras e a Grã-Bretanha).
A liberdade industrial (1 abril 1808). Revogação do Alvará de D. Maria I (1785) que proibia indústrias
no Brasil. Pouco impacto em função da concorrência britânica, desinteresse da
aristocracia e persistência do escravismo.
Criação do Banco do Brasil (8 outubro 1808). Visa cobrir os gastos do governo e promover o comércio.
Os tratados com a Grã-Bretanha de “aliança e
amizade” e de “comércio e navegação” (1810).
– Redução das
tarifas alfandegárias, favorecendo os britânicos: 15% de taxa para a importação
de produtos britânicos, 16 % para os produtos portugueses e 24 % para os de
outras nações.
– Compromisso
do governo português em acabar paulatinamente com o tráfico negreiro:
influência do liberalismo político britânico, interesses da Grã-Bretanha em
reduzir a concorrência dos produtos coloniais brasileiros aos de suas colônias
no Caribe e em ampliar o mercado consumidor, substituindo os escravos por trabalhadores
livres.
– Direito de
extraterritorialidade dos britânicos no império português: britânicos estariam
protegidos do judiciário português e deveriam ser julgados por uma autoridade
escolhida por eles.
Em termos de
política externa, o governo de D. João no Brasil tomou as seguintes medidas:
Conquista da Guiana Francesa (1809-1815):
ocupação de Caiena. Resultado das Guerras Napoleônicas.
Devolvida à França no Congresso de Viena.
Elevação do Brasil à Reino Unido com Portugal
(1815). Legitimou a permanência da Corte no Brasil e
seu domínio sobre Portugal. Resultado das negociações diplomáticas no Congresso
de Viena.
A Conquista do Uruguai (1816): antiga colônia
espanhola do Sacramento ou Banda Oriental.
Impediu o domínio argentino na região do Prata e sufocou a independência do
Uruguai, transformado na Província Cisplatina.
A presença da
Corte no Brasil também favoreceu o desenvolvimento cultural, principalmente do
Rio de Janeiro, destacando-se a criação de jornais, bibliotecas, museus,
escolas técnicas e academias. Com o final das Guerras Napoleônicas e o restabelecimento
de relações diplomáticas com a França, ampliou-se a influência cultural
francesa no Brasil, embora o domínio econômico permanecesse com a Grã-Bretanha.
Problemas do governo de D. João VI
Apesar das
vantagens materiais (principalmente para parte das elites econômicas e das
camadas médias) e do novo status internacional do Brasil, o governo de D. João
VI foi acompanhado de uma série de problemas:
Um Estado separado da sociedade. Uma monarquia absolutista ultrapassada, corrupta e estrangeira;
burocracia inchada, com a maioria dos cargos públicos monopolizados pelos
portugueses; despesas elevadas exigindo muitos impostos dos brasileiros.
Ambiguidade e
contradições da política econômica. Medidas liberais: o mínimo necessário para viabilizar a permanência da
Corte no Brasil e para atender às pressões inglesas. Persistência do colonialismo:
favorecer ao máximo possível os portugueses no Brasil (isenção de taxas,
facilidades de importação, licenças e alvarás).
A ascensão da aristocracia rural brasileira. Conflito com os portugueses: por mais direitos políticos e cargos
públicos, contra os últimos privilégios lusitanos. Crescimento da maçonaria, organizações secretas de
origem europeia com caráter místico, que divulgavam as ideias liberais,
reunindo no Brasil representantes da aristocracia e das camadas médias que
defendiam a independência. A aristocracia estava dividida quanto ao futuro do
Brasil em dois grupos: um mais conservador e outro mais radical.
–
Conservadores: evitar uma revolução popular; tentar um acordo com os
portugueses dividindo o poder; eliminar o absolutismo.
– Radicais:
fazer uma revolução antilusitana; aliança com as camadas médias e os pobres;
tendência republicana.
A Revolução Pernambucana (1817)
A primeira
revolução no Brasil, a Revolução Pernambucana tentou instalar uma república
independente (os movimentos anteriores de independência não passaram do estágio
de conspiração). A revolução foi motivada pela crise econômica no nordeste
(seca, dificuldades em exportar açúcar e algodão), pela insatisfação com os
privilégios comerciais dos portugueses, com o absolutismo de D. João VI e o
autoritarismo do governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro e com os
impostos elevados. A Revolução Pernambucana teve também uma forte influência do
liberalismo, da Revolução Americana, da Revolução Francesa, da independência
das colônias espanholas na América do Sul. O movimento foi liderado pelos
radicais, com apoio popular e participação do clero. Houve luta armada contra
os portugueses e a tomada do poder pelos revolucionários em Recife (março-maio,
1817), que criaram um governo provisório com Domingos Teotônio Jorge, Domingos
José Martins e Padre João Ribeiro, entre outros. A revolução fracassou diante
da violenta repressão de D. João VI: execução dos líderes, centenas de mortos e
prisioneiros.
A Revolução do Porto (1820)
A Revolução do
Porto foi uma revolução liberal (“burguesa”) em Portugal com reflexos no
Brasil. Seus motivos foram: (I) a influência do liberalismo e da Revolução
Constitucionalista Espanhola; (II) a crise econômica em Portugal, resultado das
Guerras Napoleônicas e da abertura dos portos brasileiros; e (III) a
anglofobia: contra a presença militar e o domínio econômico britânico em
Portugal. Os objetivos da revolução foram contraditórios em termos de
liberalismo. No sentido político, ela tinha a intenção de criar de uma
constituição liberal que reduziria o poder do rei D. João VI. Mas no sentido
econômico, os revolucionários queriam recolonizar o Brasil, anulando a abertura
dos portos e retornando ao pato-colonial. Os momentos mais importantes da
Revolução do Porto foram:
Agosto, 1820. Eclosão da Revolução em Portugal.
Janeiro, 1821. Reunião das Cortes (assembléia constituinte que assumiu o
governo de Portugal), controladas pela burguesia portuguesa. Exigiram o retorno
de D. João VI para Portugal.
Fevereiro, 1821. Revolta militar-popular no Rio de Janeiro favorável às Cortes.
Exigiu o retorno de D. João VI a Portugal para jurar a Constituição do Reino
Unido.
Março, 1821.
Eleições no Brasil (as primeiras da história). Deputados brasileiros foram para
Portugal para tentar elaborar uma constituição comum aos dois países, buscando
um compromisso com as Cortes e a manutenção do Reino Unido.
Abril, 1821. D. João VI retornou a Portugal. Seu filho D. Pedro ficou no Rio
de Janeiro como “Príncipe regente do Brasil”.
2.3 A Regência de D. Pedro no Brasil
(1821-1822)
A situação política no Brasil
Como
consequência da Revolução do Porto, houve uma rápida expansão das ideias
revolucionárias liberais e o crescimento da maçonaria no Brasil. Formaram-se
três grupos políticos rivais:
Partido Português: comerciantes e militares portugueses favoráveis às Cortes e à
recolonização do Brasil.
Partido Brasileiro: aristocracia rural conservadora e alguns portugueses que haviam
se beneficiado com a presença da monarquia no Brasil. Defendiam inicialmente a
manutenção do Reino Unido, mas com livre comércio e maior autonomia para o
Brasil.
Liberais radicais: minoria da aristocracia e classe média, defensores da
independência total do Brasil.
A aliança entre D. Pedro e a aristocracia
rura
Rapidamente,
setores da aristocracia rural aproximaram-se de D. Pedro, resultando em uma
aliança entre ambos por motivos diferentes.
D. Pedro não queria ver a sua autoridade limitada pelas Cortes de Portugal
e também desejava assumir a liderança da independência do Brasil, para evitar
sua radicalização (expulsão total dos portugueses, cortar todos os laços com
Portugal etc). A aristocracia desejava evitar a recolonização pelas Cortes e garantir
maior autonomia para o Brasil, se necessário com a independência mas sem uma
revolução popular. O setor da
aristocracia que mais apoiou D. Pedro contra as Cortes foram os fazendeiros conservadores
do Rio de Janeiro e de São Paulo, representados por José Bonifácio de Andrada. Ele foi o articulador da aliança entre o
príncipe e a classe dominante brasileira, feita também pela maçonaria. Contudo,
surgiram problemas para a autoridade de D. Pedro que ameaçavam também
interesses da aristocracia: (I)
as Cortes de Portugal (através do exército português) controlavam parte do território
brasileiro: Pará, Maranhão, Bahia e Cisplatina; (II) os radicais ameaçavam
fazer uma revolução popular que nem a aristocracia rural (“partido brasileiro”)
e D. Pedro desejavam.
As medidas recolonizadoras das Cortes e o
conflito com o Brasil
A tensão
política entre Brasil e Portugal cresceu a partir do segundo semestre de 1821
em razão de uma série de medidas tomadas pelas Cortes e por D. Pedro:
Setembro, 1821. As Cortes extinguem vários tribunais e repartições no Brasil e
determinam que D. Pedro volte a Portugal.
Outubro, 1821. As Cortes decidem enviar mais tropas para o Brasil.
9 de janeiro, 1822. “Dia do Fico”. Desafiando as ordens das Cortes, D. Pedro aceita uma petição de
brasileiros (aristocracia e radicais) para permanecer no Brasil. No dia 16, D.
Pedro nomeia um ministério com brasileiros, encabeçado por José Bonifácio.
Fevereiro, 1822. Com recursos dos fazendeiros do RJ, SP e MG (“Partido
Brasileiro”) D. Pedro organiza um exército e as forças portuguesas do general
Avilez abandonam o Rio de Janeiro. Início da luta armada na Bahia entre
portugueses e brasileiros.
Maio, 1822. O “Cumpra-se”. D. Pedro decreta que qualquer medida das Cortes só seria obedecida
no Brasil com sua autorização. Ele recebe da Câmara do Rio de Janeiro o título
de Defensor Perpétuo do Brasil.
Junho, 1822.
Sob influência dos radicais, D. Pedro convoca uma Assembleia Nacional
Constituinte no Brasil com o voto censitário.
7 setembro, 1822. D. Pedro proclama
formalmente a Independência do Brasil.
Dezembro, 1822. Coroação de D. Pedro I como Imperador do Brasil.
Sugestões de leituras. A melhor síntese sobre o assunto continua sendo o História do Brasil (EDUSP, 1994),
de Boris Fausto.
Veja também o História de Portugal (Esfera dos Livros, 2009), de Rui Ramos.
Um ótimo estudo recente é o História do Brasil Nação, Volume I - Crise
Colonial e Independência 1808-1830 (Objetiva, 2012), obra coletiva
dirigida por Lilia
M. Schwarcz. Outro bom livro é o 1808 (Planeta, 2008), de Laurentino Gomes.
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