Em 1814-1815, governantes e diplomatas europeus reuniram-se no Congresso de Viena para definir a nova
ordem pós-napoleônica na Europa. Inspirados no conservadorismo, buscaram
estabelecer a balança do poder entre as grandes potências e restaurar as
dinastias derrubadas pela Revolução Francesa ou por Napoleão. Entre as decisões
tomadas no Congresso de Viena estava a de deixar a Alemanha e a Itália
fragmentadas politicamente em diversos pequenos Estados soberanos, em geral governados
por monarcas absolutistas. As potências absolutistas, encabeçadas pela Rússia,
formaram a Santa Aliança, com objetivos
contrarrevolucionários na Europa e nas colônias europeias na América (a
Grã-Bretanha não participou por possuir um regime liberal e apoiar a
independência da América Latina). O resultado foi uma fase de confronto entre
os grupos conservadores, partidários da ordem tradicional (monarcas, aristocracia,
Igreja) e os grupos revolucionários, defensores da criação de novos regimes
políticos e sociais (camadas médias, proletariado, burguesia, intelectuais,
estudantes).
1. AS REVOLUÇÕES EUROPEIAS DE 1820-1848
A difusão das ideias iluministas e das doutrinas do liberalismo e
do nacionalismo, a influência da Revolução Americana e da Revolução Francesa, o
impacto das Guerras Napoleônicas na Europa e na América Latina e as
transformações nas estruturas econômicas e sociais do Ocidente (crescimento das
cidades e dos grupos sociais urbanos excluídos do poder, ascensão das elites
coloniais, insatisfação das camadas populares) desencadearam novas revoluções
no mundo ocidental. Quando o Congresso de Viena se reuniu (1814), as revoluções
estavam avançando na América Latina em meio a crise do colonialismo ibérico.
Entre as décadas de 1820 e de 1840, as revoluções retornaram na Europa, desafiando
a ordem política estabelecida pelo Congresso de Viena e pela Santa Aliança. Em 1820-1822, os liberais tentaram
derrubar o absolutismo na Espanha e em Nápoles (sul da Itália), sendo
reprimidos, respectivamente, pelas forças francesas e austríacas da Santa
Aliança. Em Portugal, por sua vez, a Revolução
Liberal do Porto (1820) acabou sufocada por D. João VI (1823). Contudo, na
Grécia, que era parte do Império Turco Otomano, a revolução nacionalista grega (1821-1829) contra a dominação turca triunfou,
assegurando a independência do país graças, sobretudo, ao apoio da
Grã-Bretanha, França e Rússia – potências que possuíam interesses no Mediterrâneo
Oriental. Na França, a Revolução de
Julho de 1830 derrubou o rei absolutista Carlos X (da dinastia Bourbon,
restaurada em 1815). Os liberais moderados instalaram uma monarquia parlamentar,
encabeçada pelo rei Luis Felipe de Orleans, baseada no voto censitário, o que
frustrou as expectativas dos grupos radicais e dos trabalhadores de Paris (em
junho de 1832, os republicanos tentaram derrubar a monarquia numa revolta
popular em Paris, mas fracassaram, episódio retratado na obra "Os
Miseráveis", de Vitor Hugo). Também em 1830, os revolucionários
nacionalistas conseguiram separar a Bélgica da Holanda e instalaram uma
monarquia constitucional, reconhecida pela Grã-Bretanha e pela França. No
entanto, no mesmo ano, a revolução fracassou na Itália. A maior onda
revolucionária do período foi a de 1848 (as Revoluções de 1848 ou “Primavera
dos Povos”), causada, em parte, por uma grave crise econômica em 1846-1847
(más colheitas, escassez, inflação, fome, ruína do artesanato, desemprego,
avanço da pobreza) que aumentou a insatisfação e a radicalização popular. Na
França, em fevereiro a monarquia parlamentar de Luis Felipe foi derrubada pelos
republicanos de Paris e uma república democrática foi instalada (a Segunda
República Francesa) dirigida por um governo provisório, composto por uma
aliança de liberais, radicais e socialistas. Sob pressão dos trabalhadores e
dos socialistas, o governo criou as Oficinas Nacionais – oficinas estatais para
empregar os desempregados. Nas eleições para a Assembleia Constituinte em abril
os republicanos moderados venceram, fortalecendo os liberais no governo
provisório. Em junho, o governo provisório fechou as oficinas estatais (eram
deficitárias e incompatíveis com o ideal liberal que tentava se impor). A
esquerda (radicais republicanos e socialistas) rompeu com o governo e no mesmo
mês liderou uma insurreição dos trabalhadores de Paris, que foi
reprimida. A república democrática foi preservada pelos moderados, mas o país
ficou profundamente dividido. Nas eleições de novembro (as primeiras
democráticas da história europeia moderna), Luis Napoleão Bonaparte (sobrinho
de Napoleão) saiu vitorioso com a maioria esmagadora dos votos populares. O
presidente Luis Napoleão, entretanto, instalou uma ditadura em 1851 e, em 1852,
restaurou a monarquia napoleônica, chamada então de Segundo Império. Luis Napoleão assumiu o título de Napoleão III (1852-1870). As revoluções
nacionalistas e liberais de 1848 na Itália, Alemanha e no Império Austríaco fracassaram,
em parte por causa do recuo dos liberais diante da radicalização popular e da
intervenção militar da Rússia (em 1849 na Hungria, que tentava ficar
independente da Áustria).
2. A “A DÉCADA
SANGRENTA” (ANOS DE 1850-1860)
O ciclo
revolucionário inaugurado no final do século XVIII encerrou-se na Europa por
volta de 1850, em parte porque a situação econômica melhorou (avanço da
industrialização capitalista) e os liberais, temendo os movimentos populares
radicais, buscaram conciliar seus projetos com os grupos conservadores no
poder. O Congresso de Viena havia conseguido estabelecer a paz entre as grandes
potências europeias por quatro décadas (1825-1854). Mas os conflitos
internacionais retornaram ainda na década de 1850 (Guerra da Criméia em 1853-1856, quando Grã-Bretanha e França
uniram-se para impedir que a Rússia dominasse o Império Turco Otomano),
alcançando grande intensidade na década de 1860 e no início dos anos de 1870,
acompanhados de guerras civis, sobretudo na América. Os efeitos da industrialização
(novos armamentos, uso de ferrovias e telégrafo) começaram a modificar as
formas de lutar e a causar grande mortandade. O nacionalismo foi a principal
ideologia que influenciou os novos conflitos, envolvendo fundamentalmente a
unificação nacional no processo de criação dos Estados nacionais e a luta
contra a dominação estrangeira. Para muitos historiadores, o avanço do capitalismo
e interesses da burguesia em unificar a ampliar o mercado consumidor foram
fatores fundamentais nesses conflitos. Destaques:
1859-1870. Risorgimento: unificação italiana. Feita pelo Reino do Piemonte-Sardenha sob a
liderança do primeiro-ministro Conde de Cavour com o apoio do revolucionário
Garibaldi (exército popular no sul) em guerras contra a Áustria (que controlava
parte da Itália) e outros Estados italianos, inclusive a Igreja Católica. Em
1861 foi criado o Reino da Itália que, em 1870, anexou Roma. A Igreja não
reconheceu a anexação até 1929, quando foi assinado o Tratado de Latrão que
estabeleceu o Estado do Vaticano.
1861-1865.
Guerra da Secessão. Foi a guerra civil americana entre os estados do Norte
(capitalistas industriais) e os estados do Sul (escravistas agrários). A origem
da guerra está na pressão do movimento abolicionista do Norte pela abolição da
escravidão no sul. Em 1800-1850, os EUA fizeram uma rápida expansão territorial para o oeste, motivada pela busca de terras e
justificada pela doutrina do Destino
Manifesto (os EUA predestinados a dominar a América do Norte). Territórios
foram obtidos por meio da compra de colônias (como a Louisiana da França, em
1803; Flórida da Espanha, em 1819; Alasca da Rússia, em 1867), por meio da
união voluntária com o Texas (1845, depois que texanos de origem americana o
separaram do México em 1836) e com a vitória dos EUA na Guerra
Mexicano-Americana de 1846-1848 (quando o México foi obrigado a vender, entre
outros territórios, a Califórnia, o Novo México e o Arizona). A “Conquista do
Oeste” dizimou ou expulsou os indígenas para áreas mais desérticas, mas favoreceu
o desenvolvimento do capitalismo industrial do Norte e a formação de uma
mentalidade moderna liberal antiescravista. Em 1854 foi criado o Partido
Republicano por abolicionistas nortistas. Em 1860, o candidato republicano Abraham Lincoln venceu as eleições
presidenciais e os estados sulistas, temendo o abolicionismo do novo governo,
fizeram a secessão (separação) e criaram um novo país independente no sul, a
Confederação. Em 1861, Lincoln, presidindo a União (os estados nortistas e
parte do sul que aceitou continuar nos EUA) invadiu a Confederação, liderada por Jefferson Davis. A União,
vitoriosa em 1865, reunificou os EUA e aboliu a escravidão. Os negros, contudo,
ficaram marginalizados econômica e politicamente, sobretudo nos estados
sulistas, até a década de 1960, muitas vezes sofrendo a violência de grupos
terroristas racistas brancos, como a Ku Klux Klan.
1864-1871.
Unificação da Alemanha. Feita pelo Reino da Prússia, sob a liderança do chanceler Otto von Bismarck
com apoio da nobreza prussiana dos junkers.
A unificação foi obtida em guerras da Prússia contra os outros Estados alemães,
a Dinamarca, a Áustria e, principalmente, a França, que tentou impedir a
unidade alemã precipitando a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). As
conseqüências da vitória da Prússia sobra a França foram: (a) unificação final da
Alemanha, com a formação do Império
Alemão ou Segundo Reich,
chefiado pelo kaiser Guilherme I da
Prússia e o chanceler Bismarck; (b) o Império Alemão anexou a província
francesa da Alsácia-Lorena; (c) revolução na França: derrubada da monarquia de Napoleão
III, instalação da Terceira República Francesa e tentativa de revolução
operária em Paris (a Comuna de Paris,
1871, com a participação de socialistas e anarquistas), que fracassou; (d)
revanchismo francês contra a Alemanha, uma das raízes da Primeira Guerra
Mundial; (e) ascensão da Alemanha como a principal potência industrial e
militar da Europa, desequilibrando a antiga balança do poder no continente.
1864-1870.
Guerra do Paraguai. Entre o Paraguai (ditador Solano López) e a Tríplice
Aliança do Brasil (D. Pedro II), Argentina e Uruguai. De uma forma geral, a
guerra foi causada pelos problemas locais na formação dos Estados nacionais na
região da Bacia do Prata: fronteiras imprecisas, disputas territoriais, por
direitos de navegação fluvial e pela hegemonia regional. O conflito foi
precipitado pela intervenção do Brasil na guerra civil uruguaia apoiando
rebeldes ("Colorados") contra o governo ("Blancos"), que
era aliado do Paraguai. A Grã-Bretanha apoiou a Tríplice Aliança. O Paraguai
(na época com um grande poder militar em termos relativos) invadiu o Brasil e a
Argentina, mas acabou sendo expulso e foi ele próprio invadido. A guerra acabou
em 1870, resultando em um grande número de mortos (dezenas de milhares civis e
militares paraguaios, soldados brasileiros), na morte de Solano López, na devastação
do Paraguai, na apropriação brasileira e argentina dos territórios disputados
com os paraguaios, no crescimento da dívida pública do Brasil (por causa dos
gastos militares) e na ascensão do Exército
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