1. A ORDEM INTERNACIONAL EM 1870-1914
Em 1870-1914,
no período da grande aceleração capitalista global, a ordem internacional
possuía as seguintes características:
1.1 Anarquia internacional em um
quadro multipolar
Em
1870-1914, não existiam organismos internacionais, como a ONU, que buscassem a
paz global (por meio do consenso e da negociação diplomática) e a segurança
coletiva (por meio do compromisso de ação conjunta dos países contra potências
agressoras). Nem tampouco havia uma ou duas superpotências que pudessem impor a
ordem em um sistema global. O poder internacional estava distribuído desigualmente
entre um reduzido grupo de grandes potências imperialistas rivais,
destacando-se as europeias (sobretudo Grã-Bretanha, França, Alemanha e Rússia),
mas incluindo dois Estados não europeus em rápida ascensão, os EUA e o Japão,
em um sistema mundial multipolar.
1.2 Supremacia mundial do
Ocidente sob liderança da Europa
Em
1870-1914, o Ocidente havia se consolidado como a civilização mais poderosa do
mundo em termos econômicos e militares. A maior parte da Ásia e da África estava
sob o domínio colonial ocidental ou sob influência cultural do Ocidente. De
fato, diversos hábitos (como o vestuário) e instituições (como constituições e
parlamentos) consideradas ocidentais foram adotados por povos asiáticos e
africanos. Muitos estudiosos falam em ocidentalização do mundo, causada pelos
contatos comerciais e pelo imperialismo ocidental. No entanto, a ocidentalização
foi sempre um fenômeno parcial, mais limitado às elites econômicas e
intelectuais da Ásia e da Ásia. A grande maioria das populações não ocidentais
continuou seguindo suas culturas nativas, principalmente seus aspectos
religiosos (islamismo, hinduísmo, budismo, xintoísmo, animismo entre outros).
Na verdade, a história das sociedades da Ásia e da África em 1870-1914, como em
todo século XX, foi em grande medida a história do confronto cultural entre os
defensores da ocidentalização (que a consideravam necessária para a
modernização) e seus opositores (que a associavam com a dominação estrangeira).
Contudo, se ocidentalização for entendida como a expansão do poder econômico e
militar do Ocidente sobre o mundo, não resta dúvida que ela foi o um dos
fenômenos mais importantes do período. Nenhuma outra civilização tinha
condições, na época, de competir com o Ocidente nesses aspectos, nem mesmo o
Japão.
Como antes e
hoje, a civilização ocidental não possuía unidade política e estava dividida em
diversos Estados com composição étnica diferente, muitos com um histórico de
intensa rivalidade e de guerras entre si. Em 1870-1914, o núcleo do poder
econômico e militar do Ocidente continuava sendo a Europa, ou mais precisamente
suas grandes potências. As que tinham maior projeção global eram Grã-Bretanha (uma
monarquia parlamentar liberal), França (uma república liberal) e Alemanha (uma
monarquia constitucional autoritária com liberalismo limitado). A Rússia (outra
monarquia autoritária) tinha um grande poder na Europa e na Ásia, mas era pouco
influente na África e na América. A Áustria-Hungria (monarquia constitucional autoritária)
e a Itália (monarquia parlamentar) eram consideradas as menores das grandes
potências, mais importantes no contexto europeu. Os austro-húngaros tinham o
seu campo de ação restrito ao Leste e Sudeste da Europa, ao passo que os
italianos buscavam expandir seu poder no Mediterrâneo Oriental e no Norte da
África.
Hegemonia britânica no
capitalismo global e no imperialismo
A
Grã-Bretanha era a maior potência econômica, naval e colonial do mundo, o que
resultou em sua hegemonia no capitalismo global. Ela era o maior centro
comercial e financeiro do planeta e, em razão do seu pioneirismo na Revolução
Industrial, ela também possuía a supremacia industrial, posição que perdeu por
volta de 1900, quando a sua produção industrial foi superada pela dos EUA e da
Alemanha. O império colonial britânico também era o maior e mais rico do mundo
(na verdade, foi o maior da história) e, em 1914, incluía, entre outros países,
a Índia, o Canadá, a Austrália e a África do Sul. Embora o seu exército fosse
relativamente pequeno e com uma qualidade que não superava o da Alemanha ou da
França, a Grã-Bretanha era dona da maior e mais poderosa marinha de guerra da
época. Com sua imensa frota e bases navais espalhadas por todos os continentes,
ela controlava as principais rotas do comércio marítimo, assegurando a defesa
do seu território contra invasões e o acesso às suas colônias e ao mercado
mundial.
2. O IMPERIALISMO
O
imperialismo é a tentativa de extensão do poder de um Estado para fora de suas
fronteiras nacionais originais, com o objetivo de conquistar e incorporar novos
territórios, ou de subordinar outros países aos seus interesses geopolíticos e
econômicos. Nesse sentido, ele é um fenômeno antigo na história, surgindo com
as primeiras civilizações. Quando
bem-sucedido, o imperialismo gera o
colonialismo – o domínio de um país ou povo por uma potência imperialista.
O colonialismo costuma ser dividido em duas modalidades: (I) o colonialismo direto ou informal, quando a potência imperialista (metrópole) governa a
colônia, que é dominada política e economicamente; e (II) o colonialismo indireto ou informal, quando um país é independente
politicamente, mas tem sua economia controlada por uma potência imperialista,
ou tem sua soberania limitada pelo poder de intervenção daquela potência. Esses
países dependentes economicamente ou com pouca autonomia política são
considerados semicolônias, protetorados ou áreas de influência estrangeira.
Alguns estudiosos chamam o colonialismo informal econômico de neocolonialismo.
2.1 A intensificação do
imperialismo em 1870-1914
O
imperialismo não começou no século XIX e nem foi invenção da civilização
ocidental ou do capitalismo. Contudo, a partir da segunda metade daquele século,
ele foi intensificado pelas ações das potências ocidentais, beneficiadas pela
sua superioridade industrial e financeira sobre a Ásia e a África. O resultado
foi a criação de novos impérios coloniais e a ampliação de outros mais antigos,
formais e informais, em uma escala mundial inédita. Diversas razões foram
apontadas para explicar a expansão colonial desse período:
Motivos econômicos
As potências
buscavam mercados consumidores para seus produtos industriais, fontes de
matérias-primas baratas e áreas para o investimento de capitais. Como visto no
Capítulo 4, essa procura foi intensificada a partir de 1870 pela Segunda Revolução Industrial (indústria
química, eletricidade, petróleo) e pela formação do capitalismo financeiro e
monopolista, caracterizado pela fusão do capital bancário com o capital
industrial, pela formação dos oligopólios, cartéis (acordo entre empresas
para dominar o mercado), trustes (fusão de grandes empresas
formando uma maior) e holdings (controle acionário de várias empresas por outra), e pela
crescente exportação de capital (empréstimos e investimentos internacionais). A
Primeira Grande Depressão Mundial (1873-1896), caracterizada por queda dos
preços, falências e pela adoção do protecionismo alfandegário, tornou mais
urgente a busca desses mercados. Entretanto, a busca de colônias continuou
mesmo depois que a crise foi superada e o Ocidente entrou em uma fase de
expansão econômica, de prosperidade e de otimismo das elites e da classe média
conhecida como Belle Époque
(1896-1914).
Motivos políticos-ideológicos
O
nacionalismo no Ocidente e no Japão criou a ideia de que uma nação, para ser
forte e respeitada, precisava possuir um império colonial. Esse pensamento
desenvolveu-se associado a outras justificativas ideológicas. O darwinismo social pregava que os
indivíduos, as classes sociais, os povos e as raças estariam submetidas as leis
da seleção natural e da sobrevivência do mais capaz. De acordo com essa visão,
o mundo estaria dividido em países vencedores e países perdedores A evolução
histórica da humanidade - quer dizer, sua evolução cultural, política,
econômica e social - seria resultado da vitória dos povos e países mais fortes
e capazes sobre os mais fracos e incompetentes. Haveria uma seleção natural,
historicamente fundamentada, em que os melhores (Europa, EUA, Japão) se impõe
sobre os piores (Ásia, África, América Latina). Portanto, as potências imperialistas
tinham o direito - e mesmo o dever - histórico e natural de dominar os países
coloniais para garantir a continuidade da evolução e do progresso humano. Entre
os mais importantes ideólogos do darwinismo social está o sociólogo britânico Herbert Spencer (1820-1903). O
darwinismo social reforçou o racismo,
ou seja, a crença de que algumas raças são superiores a outras biologicamente e
intelectualmente. O racismo foi amplamente utilizado para justificar o domínio
ocidental (dos “brancos”) sobre os povos constituídos pelas “raças inferiores”
(negros, amarelos, pardos). Outro argumento favorável ao imperialismo foi a missão civilizadora, a ideia de que as
potências imperialistas representavam a civilização e a modernidade, ao passo
que os países coloniais seriam caracterizados pela barbárie e o atraso. De
acordo com esse raciocínio, os povos atrasados, por conta própria, seriam
incapazes de alcançar o desenvolvimento em função de seu conservadorismo e
limitações culturais. Assim, as potências imperialistas tinham o dever
histórico de levar a civilização para esses países, libertando-os da ignorância
e da pobreza. O colonialismo, portanto, seria benéfico porque exportaria o
progresso para os países dominados. Um dos mais famosos defensores dessa ideia
foi o escritor britânico, nascido na Índia, Rudyard Kipling (1865-1936), que escreveu do “ônus” ou “fardo do
homem branco” em levar a civilização para povos ignorantes que resistiam em não
aceitar o domínio colonial “progressista”.
2.2 O imperialismo na Ásia
Um fator
decisivo para a intensificação do imperialismo ocidental no século XIX (e
japonês a partir da década de 1890) foi a decadência de duas grandes potências
do Oriente, o Império Chinês (a China da dinastia Qing ou Manchu) e o Império
Turco Otomano. As razões do declínio do poder desses antigos impérios orientais
são controversas, mas costumam ser associadas a uma incapacidade de acompanhar
a modernização capitalista do Ocidente, o que teria deixado as potências
asiáticas defasadas em termos tecnológicos, econômicos e militares. O
conservadorismo político e cultural dos dirigentes e das elites do impérios
orientais inviabilizou ou limitou as reformas necessárias para superar o seu
atraso. A notável exceção ao processo de declínio asiático foi o Japão, onde a
monarquia foi bem-sucedida na realização de reformas que aboliram o feudalismo
e industrializaram o país, lançando as bases da modernidade capitalista
japonesa. O Japão rapidamente transformou-se em uma potência imperialista
moderna que passou a competir com o Ocidente por mercados e colônias no Extremo
Oriente.
O Império Turco Otomano
Os turcos
otomanos, originários da Ásia Central e seguidores do islamismo, criaram um dos
mais poderosos impérios da Idade Moderna. Com capital em Constantinopla (que os
turcos haviam tomado depois de destruírem o que restava do Império Bizantino),
o Império Turco Otomano em seu apogeu no século XVI dominava os Bálcãs e a
maior parte dos países árabes do Oriente Médio e do Norte da África. Entre os
territórios que os turcos controlaram até a Primeira Guerra Mundial estavam as
três principais cidades santas do Oriente Médio: Meca e Medina (sagradas para
os muçulmanos) e Jerusalém (sagrada para os judeus, cristãos e muçulmanos).
Chefiado por um monarca absolutista, o sultão,
considerado também califa (líder
e protetor do Islã), o Império Turco Otomano era a maior potência muçulmana de
sua época, embora a maioria de seus súditos nos Bálcãs fosse constituída por
cristãos. Contudo, o expansionismo turco se esgotou no século XVII e, a partir
do final do século XVIII, o Império Otomano entrou em processo de desintegração.
O resultado foi a Questão do Oriente – as incertezas sobre o futuro do
decadente Império Otomano (o “velho doente da Europa”) e os problemas
internacionais que isso gerou. Diversos países balcânicos ficaram independentes
com o triunfo de movimentos nacionalistas em violentos conflitos étnicos
(Grécia em 1821-1830; Sérvia, Romênia e Montenegro em 1878; Bulgária em
1878-1908; e Albânia em 1912). Reformas modernizadoras foram tentadas na
segunda metade do século XIX mas fracassaram. Ao mesmo tempo, as grandes
potências europeias passaram a disputar os territórios turcos no Oriente Médio,
no Norte da África e nos Bálcãs. A Rússia era a potência que mais ameaçava o
Império Turco, com pretensões de tomar
Constantinopla e o Cáucaso, mas os otomanos acabaram perdendo territórios
também para a França (Argélia, 1830; Tunísia, 1881), Grã-Bretanha (Egito,
1882), Áustria-Hungria (Bósnia, 1908) e Itália (Líbia, 1912). Os alemães
estabeleceram uma missão militar para reorganizar o exército turco (1883) e, em
troca de empréstimos ao governo otomano, obtiveram concessões (1899 e 1902)
para construir a Ferrovia Berlim-Bagdá – na verdade, estender a ferrovia
Berlim-Constantinopla para Bagdá e Basra, próxima do Golfo Pérsico. A
penetração alemã no Império Turco Otomano e no Oriente Médio precipitou a
aliança entre a Grã-Bretanha e a Rússia em 1907, simbolizada pela divisão da
Pérsia (Irã) entre as duas potências.
A Índia
Até a década
de 1940, o nome “Índia”, usado no Ocidente, referia-se a um território maior do
que o da atual República da Índia (Bharat
Juktarashtra). Além da Índia de hoje, incluía também o Paquistão,
Bangladesh, Nepal, Butão e Sri Lanka, no total um território com cerca de 4,5
milhões de km2 constituindo o chamado “subcontinente indiano”. Em
1900, a sua população era de 300 milhões de pessoas. Nesse sentido de uma grande Índia, em meados do século XV não
existia um povo ou nação indiana unificada. Na época, mais do que hoje, havia
na Índia uma enorme diversidade étnica e cultural, com 1600 línguas e dialetos
e 200 escritas diferentes. O país estava fragmentado politicamente em vários Estados ,
divididos em duas grandes zonas culturais: o norte islâmico e o centro e sul hinduísta. Nos séculos XV-XVII, os europeus (portugueses,
holandeses, ingleses e franceses) estabeleceram feitorias no litoral da Índia,
buscando o comércio de especiarias. A presença europeia ocorreu por meio de
empresas mercantis – as Companhias das Índias Orientais. Destas, a mais importante,
a longo prazo, foi a inglesa (EIC ou East Indian Company).
Contudo, o fato mais marcante nesse período da história indiana foi, no início
do século XVI, a invasão de um grupo turco-mongol muçulmano, originário do Afeganistão,
que estabeleceu o Império Mughal no norte da Índia, com capital em
Delhi. No século XVII, a maior parte da Índia ficou sob controle dos mughals.
No entanto, em 1700-1760, o poder
mughal declinou e os conflitos entre muçulmanos e hindus aumentaram. Os
europeus começaram, então, a expandir a sua influência na Índia. França e
Grã-Bretanha disputaram o controle da costa leste do país e fizeram alianças
com os monarcas e as elites indianas. Na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) os
britânicos derrotaram os franceses e a Grã-Bretanha (a EIC) virou a potência
hegemônica na Índia.
■ A conquista britânica
(1760-1850). Entre o final do século XVIII e a primeira metade do século
XIX, a Grã-Bretanha, por intermédio da EIC, conquistou grande parte da Índia,
que se transformou na principal colônia do seu império. A expansão britânica
partiu do litoral leste e, principalmente, do nordeste (região de Bengala, que
incluía o atual Bangladesh), onde estava situada a capital colonial,
Calcutá. Em 1804, o imperador mughal
Shah Alam II aceitou formalmente a proteção da EIC. No ano seguinte, o exército
mughal foi dissolvido. O Estado mughal (chamado pelos britânicos de “Reino de
Delhi”) continuou existindo, mas as áreas sob seu controle eram administradas,
de fato, por britânicos (oficialmente como “servidores” do governo mughal). Com
efeito, o domínio britânico se deu de forma direta sobre alguns territórios e
em outros de forma indireta (Estados vassalos ou protetorados, governados por
príncipes como os rajás hinduístas e os nababos muçulmanos, ou pelo monarca
mughal). Parte das elites indianas aliou-se aos britânicos. Mercenários
indianos hindus e muçulmanos conhecidos como cipaios foram incorporados ao exército colonial britânico (na
década de 1850, eram 200 mil cipaios e 40 mil britânicos nas forças coloniais).
Sob o colonialismo da EIC, principalmente na administração do governador-geral
Marquês de Dalhousie (1848-1856), a Índia começou a ser parcialmente modernizada
(ferrovias, sistema postal, telégrafo). Contudo, a anexação de principados
autônomos, o conflito cultural (hábitos e valores ocidentais chocavam-se com os
costumes hindus e islâmicos), a taxação excessiva dos camponeses e a ruína do
artesanato local diante da concorrência dos produtos industriais da metrópole
causaram muita insatisfação entre diversos setores da população indiana.
■ A Revolta dos Cipaios: o
Grande Motim Indiano (1857-1858).
Na década de 1850, a insatisfação com a dominação britânica espalhou-se também
entre parte dos cipaios. Em 1857, as tropas cipaias do norte e centro da Índia
rebelaram-se. O motim obteve a adesão de príncipes e da população civil. O
último imperador mughal, Bahadur Shah também apoiou a revolta e formalmente
assumiu sua liderança. Massacres foram praticados pelos dois lados. Contudo, o
fraco comando dos rebeldes, a sua escassez de recursos, a falta de apoio de
outras partes do país e a organização superior dos britânicos resultaram no
fracasso da rebelião, sufocada em 1858 pela EIC com ajuda de nativos sikhs e
gurkhas. Como conseqüência da rebelião, que teve pelo menos 100 mil mortos, a
monarquia mughal foi abolida (Bahadur Shah foi exilado na Birmânia) e a
Grã-Bretanha consolidou o seu domínio colonial. Mas a EIC perdeu o controle
sobre a Índia, que passou a ser exercido pelo governo britânico.
■ O Raj (1858-1947). Sob a administração colonial do Estado britânico,
a Índia foi oficialmente chamada de Império Indiano, Raj Britânico ou,
simplesmente, Raj (do sânscrito raja:
“rei”). O governo colonial era exercido por um Vice-Rei. Em 1877, a rainha Vitória
assumiu o título de “Imperatriz da Índia”. O Raj era composto pela atual Índia,
Paquistão, Bangladesh, Birmânia e partes da Península Arábica. O Sri Lanka
(Ceilão) era uma colônia separada. O Nepal e Butão continuaram sendo Estados
independentes sob influência britânica. A capital do Raj ficou em Calcutá
(transferida em 1912 para Nova Delhi). O sistema de dominação direta e indireta
foi aperfeiçoado: 60% do território indiano eram diretamente governados pelos
britânicos e 40% por príncipes com autonomia para tratar dos seus assuntos
domésticos (eram aproximadamente 700 principados aliados da Grã-Bretanha). O
exército colonial continuou utilizando cipaios, mas o número de britânicos
aumentou (em 1914 de 155 mil soldados, 65 mil eram britânicos). A modernização
do país foi acelerada e a agricultura comercial avançou, mas a produção
artesanal permaneceu em agudo declínio diante dos têxteis britânicos
importados. Em parte por causa da alteração das estruturas agrárias tradicionais
e da elevação das taxas sobre os camponeses, o que reduziu as reservas de alimentos
da população pobre rural, mas também em grande medida por causa das secas, a
fome assolou a Índia em 1876-1879 e 1896-1902, matando entre 12 milhões e 30
milhões de indianos.
O Raj era a colônia mais
importante da Grã-Bretanha, mas, devido ao tamanho da sua população, ela não
comportou o tipo de povoamento por imigrantes britânicos como o que ocorreu no
Canadá, Austrália, Nova Zelândia ou mesmo na África do Sul. Na verdade, de uma
forma geral, a metrópole preservou grande parte das culturas nativas e estimulou
as diferenças entre hindus e muçulmanos, seguindo a estratégia de “dividir para
reinar”.
A China
Nas
Idades Média e Moderna, o Império Chinês era o mais rico e poderoso dos reinos
orientais. Até o início do século XIX, o Estado chinês (um regime despótico
dirigido por uma poderosa burocracia, encabeçado pela dinastia Manchu ou Qing, 1644-1912) se manteve relativamente isolado da Europa. A
China possuía uma economia agrária pré-capitalista, com uma grande produção
artesanal e manufatureira que a tornava em grande medida auto-suficiente. Seu
comércio com a Europa tinha muitas restrições, limitado aos portos de Guangzhou
(Cantão) e Macau (possessão portuguesa), e era superavitário – o país pouco
importava dos europeus e acumulava prata usada pelos mercadores ocidentais para
pagar as compras de chá, seda e porcelana chinesas. Os europeus procuraram
compensar essas desvantagens com o contrabando de ópio, praticado principalmente pelos britânicos e seus associados
chineses ligados à Companhia das Índias Orientais (a maior parte do ópio vinha
da Índia).
■ A Guerra do
Ópio (1839-1842). O crescimento do contrabando de ópio na década de
1830 trouxe vários problemas para a China, como o aumento do número de viciados
e da corrupção em Cantão (funcionários envolvidos no contrabando), e a perda de
prata, usada para comprar ópio. O imperador Daoguang (1820-1850) reagiu intensificando a repressão ao
contrabando, o que prejudicou os interesses da EIC e causou um conflito armado
com a Grã-Bretanha. Na consequente Guerra do Ópio a China foi derrotada e
obrigada a assinar o Tratado de Nanjing ou Nanquim (1842): Hong
Kong foi cedida aos britânicos (devolvida à China em 1999) e outros
portos foram abertos ao comércio internacional.
■ A dominação
estrangeira na segunda metade do século XIX. A Guerra do Ópio
iniciou não apenas a abertura comercial chinesa mas a fase do imperialismo
ocidental (e depois japonês) na China, caracterizado pelos tratados desiguais (desvantajosos para
os chineses) e pela divisão do país em áreas
de influência (dominação) estrangeira. A penetração ocidental
enfraqueceu o Estado chinês e, junto com o agravamento dos problemas sociais e
econômicos do país, desencadeou a Rebelião Taiping (1850-1864), uma gigantesca revolta camponesa contra a
monarquia Qing. Com dificuldade e ajuda do Ocidente (que temia o colapso da
autoridade e o caos político na China), os Qing reprimiram o movimento, mas
ficaram mais debilitados. Em uma Segunda
Guerra do Ópio ou Guerra do Arrow (1856-1860), agora contra a
Grã-Bretanha e França, a China foi novamente derrotada e obrigada a fazer mais
concessões. Uma tentativa de modernizar o país com reformas limitadas que
deveriam fortalecer o Estado fracassou (o Movimento do Auto-Fortalecimento 1865-1890). Na mesma época, o
Japão adotou com sucesso um projeto mais radical com objetivos semelhantes e,
fortalecido, lançou-se contra a China. Na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), os chineses foram
derrotados pelos japoneses, que tomaram Taiwan e começaram a exercer uma
crescente influência sobre a Coréia e a Manchúria. A expansão japonesa
desencadeou a Partilha das Concessões (1896-1899) – a divisão da China em zonas
de influência entre as potências europeias. A monarquia Qing, na prática, tinha
perdido a soberania sobre a China, que virou uma semi-colônia europeia e japonesa.
■ A Revolta dos
Boxers (1899-1900). A humilhante dominação estrangeira resultou no
crescimento da xenofobia e do nacionalismo entre os chineses. Organizações
secretas foram criadas com a intenção de expulsar os ocidentais e os japoneses
do país. Entre elas a dos Boxers (“Lutadores dos Punhos Sagrados”), que
lideraram em 1899-1900 uma grande revolta popular contra os estrangeiros. A
Revolta dos Boxers foi inicialmente também voltada contra os Qing mas a
imperatriz Cixi (1861-1908),
buscando sustentação popular, apoiou os revoltosos e entrou em guerra com as
potências imperialistas. Contudo, a maioria dos governadores provinciais não
aderiu ao movimento, que acabou sendo sufocado pelas forças ocidentais e
japonesas.A derrota chinesa ampliou o controle estrangeiro no país e o apoio
interno aos Qing desapareceu completamente. Mas as rivalidades e divergências
entre as potências impediram que elas dividissem totalmente a China entre si e
acabassem com o Estado chinês. De fato, na mesma época, os EUA (presidente William McKinley,
1897-1901, e seu Secretário de Estado John
Hay) propuseram a Política de
Portas Abertas para as relações entre a China e o mundo – o
livre-comércio e a igualdade de condições nas concessões chinesas.
■ A crise da monarquia chinesa. No início do século XX, a monarquia
dos Qing ficou mais isolada e perdeu sua legitimidade. A derrota para as
potências imperialistas durante a Revolta dos Boxers, o avanço da dominação
estrangeira, problemas financeiros, a corrupção da Corte e do sistema imperial
como um todo e a expansão das doutrinas políticas ocidentais (nacionalismo,
liberalismo, democracia, socialismo). A oposição dos intelectuais dissidentes
cresceu, sobretudo nas elites urbanas. Em 1905, um desses opositores, Sun Yat-sen, fundou a Tongmenghui ou Aliança Revolucionária Chinesa que
defendia uma república baseada nos “Três Princípios do Povo”: nacionalismo,
democracia e bem-estar social. Essa organização originou, em 1912, o Partido Nacionalista ou Guomindang (Kuomintang – KMT), o
principal partido político da China até a década de 1940.
■ A Revolução Chinesa de 1911. A dinastia Qing tentou novamente fazer
algumas reformas, mas elas foram insuficientes e por demais tardias. A crise do
regime monárquico atingiu o ápice em 1911. Em outubro, em meio a motins do
exército, eclodiu a revolução republicana sob a liderança da Aliança
Revolucionária Chinesa. O último imperador, Puyi, abdicou em fevereiro de 1912. No entanto, Sun Yat-sen não
conseguiu apoio suficiente dos militares para chefiar o governo, que foi
assumido pelo general Yuan Shikai
(presidente 1912-1915). Um parlamento foi criado (o KMT era o partido mais
importante) em uma estrutura política inspirada no liberalismo. Mas a jovem
república nasceu mergulhada em problemas de solução difícil, ao menos a curto e
médio prazo, como a crise financeira, a dominação estrangeira e a ascensão de
governadores independentes em várias províncias. O próprio Shikai, de
comportamento autoritário, entrou em conflito com o Parlamento e o KMT. Em
1915, durante a Primeira Guerra Mundial, ele restaurou a monarquia e tentou
governar como imperador até ser assassinado (1916). A China ficou, então,
fragmentada politicamente nas mãos de chefes militares conhecidos como os
“Senhores da Guerra”. Somente a partir do final da década de 1920, uma ordem
centralizada começou a emergir no país sob a direção do sucessor de Sun Yat-sen
(que morreu em 1925), Chiang Kai-shek.
O Japão
Na primeira metade do século XIX, o Japão vivia sob uma
espécie de feudalismo, com uma monarquia fraca (embora o imperador fosse considerado
divino) e uma classe dominante de senhores feudais, os daimios – a famílias nobres dos
guerreiros samurais. O poder central, na prática, estava com o xogun (generalíssimo ou comandante
militar supremo), cargo que, desde 1600, era ocupado pelos Tokugawa, uma destacada família da
nobreza japonesa. Com apoio dos daimios, o xogunato mantinha o país fechado e sem contatos com o Ocidente
desde o século XVII, por temer que a influência ocidental abalasse as estruturas
tradicionais de poder. O comércio internacional era quase inexistente e muito
controlado. O Japão conseguiu preservar suas tradições culturais mas o país
ficou tecnologicamente atrasado, não conseguindo acompanhar o desenvolvimento
econômico do Ocidente gerado pela Revolução Industrial. Esse atraso deixou os
japoneses em desvantagem militar e impediu que eles resistissem às pressões do
imperialismo ocidental nas décadas de 1850 e 1860.
■ A abertura do
Japão (1854-1867). O isolamento do Japão foi rompido pelos EUA, em 1853, com a chegada de uma
esquadra americana comandada pelo comodoro Mattew Perry, que exigiu das autoridades
japonesas o direito de usar alguns portos do Japão. Em março de 1854, o Japão
assinou o Tratado de Kanagawa,
que abriu dois portos ao comércio com os EUA. Nos anos seguintes, outros
tratados semelhantes foram assinados com as potências europeias. As elites
japonesas sentiram-se ameaçadas pelos tratados comerciais e pelos estrangeiros.
Em 1863-1864 alguns daimios e seus samurais entraram em confronto com os
americanos, britânicos, franceses e holandeses e, em represália, cidades
japonesas foram bombardeadas pelos navios ocidentais. Os xoguns, impotentes
para enfrentar os estrangeiros, perderam prestígio. Disputas entre daimios
rivais e revoltas de samurais marcaram os anos de 1864-1867, deixando o país
praticamente em guerra civil. Um grupo de nobres e mercadores passou a defender
a modernização do Japão para salvá-lo da dominação ocidental Esse grupo aproximou-se
da corte imperial e começou a agir para fortalecer a monarquia. Em novembro de
1867, o último xogun, Keiti, renunciou, pondo fim ao xogunato.
■ A Revolução
Meiji (1868-1889). Meiji (“luzes”) foi o nome do reinado do imperador Mutsuhito (1867-1912), que liderou a
Revolução ou Restauração Meiji, o movimento político que iniciou a construção
do Japão moderno. A Revolução Meiji foi uma “revolução pelo alto” – uma revolução feita pelo governo e por
setores da classe dominante, com apoio dos comerciantes, que eliminou a antiga
estrutura feudal japonesa e fortaleceu o Estado com a intenção de modernizar o
país no sentido do desenvolvimento industrial e capitalista. Principais
medidas: (I) fortalecimento da
monarquia; (II) abolição do
feudalismo: os feudos foram transformados em distritos administrativos;
os camponeses deixaram de pagar taxas para os nobres, passando a pagá-las para
o Estado, que aumentou os seus recursos; os daimios passaram a receber pensões
do governo; a ordem dos samurais foi eliminada (que reagiram com a Rebelião de Satsuma, em 1877,
sufocada); (III) maior contato com o
exterior: o comércio internacional foi incentivado, o governo contratou
assessores ocidentais e enviou japoneses para estudarem no exterior e
conhecerem as técnicas e os métodos administrativos, econômicos e militares do
Ocidente; (IV) modernização das forças
armadas, do ensino e da justiça: baseadas em modelos europeus; (V) criação do Banco do Japão: captou
recursos e poupança que auxiliaram no financiamento da industrialização; (VI) industrialização do país: inicialmente
promovida pelo Estado com recursos públicos, posteriormente as indústrias foram
privatizadas e transferidas para os daimios e burgueses, formando os zaibatsu (as poderosas corporações empresariais);
e (VII) Constituição de 1889: o
Japão tornou-se uma monarquia parlamentar.
■ O
imperialismo japonês. A Revolução Meiji
modernizou e industrializou o Japão, transformando-o numa potência imperialista
capaz de disputar com o Ocidente territórios no Extremo Oriente, principalmente
na China. Como foi dito acima, os japoneses venceram a Guerra Sino-Japonesa (1894-1895) e ocuparam parte da China. A
ascensão do Japão levou-o a entrar em confronto com a Rússia, outra potência em
expansão no norte do Pacífico. Os dois países passaram a disputar o controle da
Coréia e da Manchúria, o que deflagrou a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). O Japão derrotou a Rússia (a
primeira vitória de um país asiático sobre uma potência europeia “superior”) e,
pelo Tratado de Portsmouth (1905),
ele adquiriu o sul das ilhas Sakhalinas, o estratégico Porto Arthur (norte da
China) e o protetorado sobre a Coréia e a Manchúria meridional. Em 1910, ele
anexou a Coréia.
O imperialismo em outros países da
Ásia e na Oceania
A Holanda começou a dominar a Indonésia (as Índias Orientais
Holandesas) no século XVII, e no início do século XIX completou a conquista
desse arquipélago, de maioria muçulmana, rico em recursos naturais (borracha,
petróleo). A França conquistou a
Indochina (Vietnam, Camboja e Laos) na segunda metade do século XIX. A Birmânia
foi conquistada pela Grã-Bretanha
depois de três guerras entre 1824 e 1886. A Tailândia, reino no sudeste
asiático entre a Birmânia britânica e a Indochina francesa, manteve sua independência
como um “Estado-tampão” separando
as duas potências europeias. As Filipinas foram ocupadas inicialmente
pela Espanha e, no final do século XIX, pelos EUA, que a tomaram dos espanhóis
na Guerra Hispano-Americana (1898). O domínio americano foi consolidado depois
que a revolta anticolonial dos nacionalistas filipinos foi derrotada na violenta
Guerra Filipina (1899-1902) O Havaí também foi anexado pelos EUA em 1898. A Rússia conquistou a
Ásia Central na segunda metade do século XIX. A Austrália foi
colonizada a partir do final do século XVIII e a Nova Zelândia a partir
do início do século XIX. Ambas receberam grandes contingentes de imigrantes
britânicos, que se apossaram de terras dos aborígenes australianos e dos
maoris neozelandeses. Junto com o Canadá e a África do Sul, a Austrália,
em 1901, e a Nova Zelândia, em 1907, adquiriram o status de Domínios –
países com certo grau de autogoverno (tendo seu próprio parlamento e
primeiro-ministro), mas devendo aliança à Coroa britânica.
2.3 O imperialismo na África
O
Norte e Nordeste da África
Até
o início do século XIX, a maior parte da África do Norte era parte do Império
Turco Otomano (Egito, Líbia, Tunísia e Argélia, províncias com grande
autonomia). O Marrocos era um reino independente. Enquanto toda a África do
Norte era muçulmana, no nordeste africano, a Etiópia (Abissínia) possuía um dos
mais antigos reinos cristãos do mundo. Com exceção de algumas cidades marroquinas
controladas pela Espanha, nessa época os europeus não possuíam colônias na
região (a tentativa francesa de dominar o Egito, em 1797-1802, iniciada por
Napoleão Bonaparte, fracassou, assim como a expedição britânica de 1807).
Contudo, a partir de 1830, com o declínio otomano, as potências ocidentais
começaram a se apropriar de territórios norte-africanos movidas por questões de
segurança (combater a pirataria no Mediterrâneo) ou estratégico-econômica
(controlar rotas comerciais, obter terras para agricultura).
■ A França
conquista a Argélia (1830-1847). A Argélia transformou-se na principal colônia da
França.Ocorreu um intenso povoamento francês nas terras da costa mediterrânea
argelina, causando tensão com a população nativa (árabe-berbere muçulmana).
Nesse contexto foi criada Legião
Estrangeira, força militar com mercenários e condenados, encarregada de
sufocar rebeliões e expandir o domínio francês. ■ A França conquista a Tunísia (1881). A Tunísia era uma
província autônoma do Império Turco Otomano, governada pelos Husseins, uma
dinastia de beys ("chefes"
ou "governadores"). França, Itália e Grã-Bretanha passaram a disputar
a influência no país, que nas décadas de 1860 e 1870 ficou endividado com
empréstimos estrangeiros para projetos fracassados de modernização. As
dificuldades financeiras do bey e um
ataque de tribos tunisianas à Argélia serviram de pretexto para a França, em
1881, ocupar a Tunísia, que foi transformada um em protetorado francês.
■ A Grã-Bretanha ocupa o Egito
(1882). O Egito é o país mais rico do Norte da África e é também o mais
populoso país árabe, posição que já ocupava no início do século XIX. Nessa
época, o governo egípcio estava teoricamente subordinado ao Império Otomano mas
na prática, como a Tunísia, ele possuía uma grande autonomia. Entre 1820 e
1840, o poderoso pasha Muhammad Ali (1805-1848) construiu um império que
incluía o Sudão, a Síria, a Palestina, parte da Arábia Saudita e Creta,
transformando o Egito em uma das grandes potências do Mediterrâneo Oriental. Em
1859-1869 os franceses construíram o Canal de Suez, ligando o Mar Mediterrâneo
ao Mar Vermelho e ao Índico, encurtando o caminho entre a Europa e a Ásia. O
governo egípcio era o maior acionista do Canal, seguido pela França. Mas
dificuldades financeiras (gastos excessivos na tentativa de modernizar o país)
levaram o Egito a vender suas ações para a Grã-Bretanha. O controle estrangeiro
sobre o Canal e a crescente presença de ocidentais causou um grande ressentimento
entre os egípcios, sobretudo entre os militares nacionalistas. Distúrbios
populares anti-ocidentais estouraram em 1881-1882. Temendo perder o controle
sobre o Canal, a Grã-Bretanha invadiu o Egito em 1882 e ocupou o país,
transformando-o em um protetorado.
■ A intervenção britânica no
Sudão e a crise anglo-francesa (1882-1898). O Sudão era controlado pelo
Egito. Em 1882 estourou um levante de fundamentalistas islâmicos sudaneses,
liderados por Muhammad Ahmed, o Mahdi (espécie de messias muçulmano),
que pregou a guerra santa contra os egípcios. Uma expedição militar anglo-egípcia
foi enviada ao Sudão e, depois de uma difícil campanha, derrotou os mahdistas.
O Sudão foi transformado em um “condomínio” anglo-egípcio. Contudo,
nessa época, os franceses estavam tentando se estabelecer em território
sudanês. Tropas francesas e britânicas ameaçaram entrar em confronto na
localidade de Fashoda, em 1898, e Grã-Bretanha e França ficaram à beira de uma
guerra (crise de Fashoda). As duas potências fizeram um acordo (a
Entente anglo-francesa) e dividiram a região, evitando um conflito militar.
■ A Itália tenta conquistar a
Etiópia (1895-1896). Unificada recentemente, a Itália adotou um
imperialismo “tardio” na busca por colônias. Afastados da Tunísia pela França
(1881), os italianos estabeleceram uma colônia na Eritréia (1882-1890),
transformaram a Etiópia em um protetorado – ou pensaram ter feito isso em 1889
– e anexaram parte da Somália (1889). Entretanto, o novo imperador da
Etiópia, Menelik II (1889-1913), cancelou o tratado do protetorado
italiano, levando a Itália a invadir o país. A conseqüente Guerra
Ítalo-Etíope (1895-1896) foi um desastre para os italianos que, derrotados,
tiveram que reconhecer a soberania da Etiópia.
A África
Negra
A África Negra (ou Subsaariana)
foi até o início do século XIX fornecedora de escravos para a América. O
tráfico negreiro, junto com o comércio de especiarias, era a principal
atividade dos europeus na época. Por volta de 1820, pequenos estabelecimentos
europeus tinham sido criados no litoral da África Negra, principalmente na
costa ocidental, mas, com exceção de alguns núcleos de povoamento português em
Angola e Moçambique, e anglo-holandês na África do Sul, não havia ainda uma
colonização propriamente dita. Com o avanço do liberalismo e do capitalismo na
Europa, a escravidão perdeu importância e passou a ser combatida, levando à
extinção do tráfico de escravos. Por sua vez, o desenvolvimento industrial
aumentou a procura de matérias-primas e o avanço da ciência possibilitou a
criação de vacinas e remédios que possibilitaram enfrentar as doenças tropicais.
O trabalho de missionários cristãos e de exploradores cresceu em
1820-1880, aumentando os conhecimentos sobre a geografia, os povos e as
riquezas (reais ou potenciais) da África Negra, e abriu o caminho para a colonização
da região – a “corrida pela partilha do continente negro”. Em 1914,
praticamente toda a África estava dividida entre as potências europeias (apenas
a Etiópia e a Libéria eram Estados efetivamente independentes). Nesse processo,
as colônias criadas desprezaram as fronteiras étnicas e históricas africanas,
misturando povos diferentes ou dividindo um mesmo povo entre duas ou mais
potências, resultando em graves problemas para a construção dos Estados
nacionais na época da descolonização (período pós-1945).
■ A conquista britânica da
África do Sul (1814-1902). No século XVII, os holandeses estabeleceram uma
colônia na extremidade meridional da África do Sul, a Colônia do Cabo. O
povoamento holandês cresceu no século XVIII com a chegada de novos imigrantes,
inclusive alemães e franceses, formando a comunidade dos bôeres ou
africânderes (a população branca descendente dos europeus, principalmente
dos holandeses). Em 1814, a
Grã-Bretanha assumiu o controle da Colônia do Cabo. Muitos bôeres não aceitaram
ficar sob o domínio britânico e, em 1836-1837, migraram para o interior e norte
da África do Sul (a Grande Jornada ou Great Trek). Depois de
lutarem contra os zulus, os bôeres criaram as repúblicas de Natal
(anexada pelos britânicos em 1843), Orange e Transvaal. A descoberta
de ouro atraiu mais imigrantes e a Grã-Bretanha anexou o Transvaal (1877). Em
1879, os britânicos venceram os zulus (Guerra Anglo-Zulu) e ampliaram
seu domínio na região. Contudo, os bôeres fizeram um levante contra os
britânicos e o Transvaal recuperou sua independência (Primeira Guerra dos Bôeres,
1880-1881). Novas descobertas de ouro na região e divergências entre britânicos
e bôeres precipitaram outra guerra, mais importante do que a anterior – a Guerra
Sul-Africana ou Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902). Com muita
dificuldade, os britânicos venceram a guerra e anexaram o Transvaal e Orange.
Os territórios sul-africanos formaram a União da África do Sul (1910),
com status de Domínio (autogoverno).
■ A Conferência de Berlin
(1884-1885). O crescente interesse das potências europeias por territórios
na África Negra, na segunda metade do século XIX, criou vários atritos entre
elas. As regiões mais disputadas eram a África Central e Ocidental, sobretudo o
território ao longo do rio Congo, explorado pelo missionário David Livingstone em 1865-1870 e pelo
jornalista Henry Stanley em
1874-1884. O rei Leopoldo II da
Bélgica, em especial, criou uma empresa, estabeleceu postos comerciais no Congo
e buscou o reconhecimento internacional de seus direitos na região (Stanley
trabalhou para ele em 1879-1884). Como a França, a Alemanha, a Grã-Bretanha e
Portugal também possuíam interesses no Congo e em suas vizinhanças, a questão
adquiriu grande relevância internacional. Para solucionar esse problema e
outras disputas, as potências reuniram-se na Conferência de Berlim, organizada
por Bismarck, o chanceler da Alemanha. Entre as principais decisões da
Conferência destacaram-se: (I) o reconhecimento do Congo como possessão pessoal
do rei Leopoldo II, na forma do “Estado Livre do Congo”; (II) a garantia da livre navegação
nos rios Congo e Níger; (III) combater a escravidão e o tráfico de escravos;
(IV) a reivindicação de um território por uma potência só poderia ser feita se
ele estivesse efetivamente ocupado por ela. A exploração colonial dos povos do
Congo por Leopoldo II foi tão brutal que causou repúdio internacional e chocou
os belgas. Em 1908, o governo belga assumiu o controle da colônia.
■ Outras possessões européias na África Negra. A França
dominou um enorme território no noroeste da África (a África Ocidental Francesa)
que incluía, entre outros países, o Senegal. A ilha de Madagascar,
no Índico, também era possessão francesa. Angola e Moçambique
foram colonizadas por Portugal. A Alemanha dominou a Namíbia (África do
Sudoeste), a Tanzânia (África Oriental Alemã), o Togo e o Camarões.
A Grã-Bretanha também colonizou a Nigéria,
o Quênia, a Rodésia (Zimbabwe) e a Zâmbia.
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