A REVOLUÇÃO AMERICANA (1774-1787)
1. ANTECEDENTES: PROBLEMAS
BRITÂNICOS EM 1763-1764
A Grã-Bretanha alcançou uma
vitória extraordinária na Guerra dos Sete Anos e expandiu seu império colonial,
não apenas tomando territórios franceses e espanhóis na América, como também
ampliando seus domínios na Índia em detrimento da França. Contudo, a vitória
britânica veio acompanhada de alguns problemas:
■ A França era a maior
ameaça à segurança das Treze Colônias que, por isso, precisavam da proteção da
metrópole. Com a expulsão dos franceses da América do Norte, essa ameaça
desapareceu e a Grã-Bretanha perdeu importância para a segurança dos colonos.
■ A guerra teve um custo
financeiro muito elevado e, junto com os gastos necessários para a
administração de um império que ficou mais extenso, aumentou a dívida do
governo britânico para níveis alarmantes (ela duplicou, ultrapassando 130
milhões de libras).
■ Os territórios a leste do
Mississipi foram incorporados ao Império Britânico, mas as tribos indígenas
locais resistiram à ocupação branca da região, desencadeando a Revolta de
Pontiac (1763-1764) – um grande levante de várias tribos nativas, lideradas
por Pontiac, chefe dos ottawa. A revolta foi sufocada com dificuldade pelos
britânicos, que ficaram preocupados com a possibilidade de novos levantes ocorrerem
em um futuro próximo, no momento em que o governo buscava evitar novas despesas
e equilibrar as contas públicas.
1.1 A NOVA
POLÍTICA COLONIAL (1763-1774)
Nos primeiros anos do
reinado de George III (1760-1820), a ampliação do império colonial
britânico, as necessidades financeiras decorrentes da Guerra dos Sete Anos e os
problemas com os índios no leste do Mississipi levaram a Grã-Bretanha a adotar
uma nova política colonial. Essa reorganização imperial foi iniciada pelo
governo do primeiro-ministro Grenville (1763-1765) e continuou na
administração de seus sucessores Rockingham (1765-1766), Pitt, o
Velho (1766-1767), Grafton (1767-1770) e Lord North
(1770-1782). Suas diretrizes gerais foram:
A Proclamação de 1763. Proibiu a colonização dos territórios anexados a oeste
dos Apalaches (Ohio), para evitar conflitos com os índios e controlar a cessão
de terras. Essa medida resultou em um conflito entre os colonos e a metrópole,
com os americanos considerando que o governo britânico os privava dos
benefícios de uma vitória que haviam ajudado a alcançar.
Intensificar o controle
político e a exploração econômica das Treze Colônias. A intenção era integrá-las efetivamente ao sistema
colonial mercantilista, cobrir os gastos da guerra e custear a manutenção de
tropas britânicas na América, necessárias, na ótica da metrópole, para a defesa
das colônias. Essa política caracterizou-se pelas tentativas de aumento dos
impostos, de adoção de um pacto-colonial mais rigoroso, do combate ao
contrabando e de redução da autonomia das assembleias coloniais.
Adotada em uma época de
dificuldades econômicas nas colônias, sobre uma população acostumada com uma
situação de semi-autonomia dentro do Império Britânico, zelosa de seus direitos
e liberdades (ou do que acreditava serem seus direitos e liberdades) e sequiosa
por novas terras, a Nova Política Colonial desagradou os colonos e precipitou
uma crise política nas relações entre a metrópole e as Treze Colônias – crise
que evoluiu para uma rebelião generalizada contra o governo britânico e se
transformou em revolução.
1.2 A QUESTÃO DOS
IMPOSTOS E A REAÇÃO DOS COLONOS
Até 1763, os colonos
anglo-americanos pagavam impostos suaves, mais baixos do que os cobrados na
metrópole. Em sua visão, como eles não tinham representantes no Parlamento
britânico, consideravam que somente as assembleias coloniais possuíam
competência para aumentar ou estabelecer novos tributos. Para muitos colonos,
portanto, a nova política fiscal do governo britânico (elevação das taxas
alfandegárias e aplicação de novas tarifas), ainda que decidida pelo
Parlamento, era ilegal e arbitrária. Sua imposição, pensavam, tornavam a
monarquia de George III e seu ministério “tirânicos” e implicavam na “escravização”
dos seus súditos na América. Instigados pelos grupos radicais e reivindicando a
aplicação dos direitos constitucionais britânicos, os colonos reagiram com uma
surpreendente determinação contra essas medidas.
1764.
Lei do Açúcar (Sugar Act). Chamada também de Lei da Receita. Em 1733, a Grã-Bretanha tinha
introduzido a Lei do Melaço, cobrando tarifas sobre o açúcar e melaço das
Índias Ocidentais Britânicas importados pelos destiladores de rum da Nova
Inglaterra. Contudo, essa lei não foi aplicada com rigor, permitindo que os
negociantes norte-americanos contrabandeassem similares mais baratos das
colônias francesas e holandesas no Caribe. O Sugar Act alterou esse quadro. Ele
reduziu para a metade as taxas do açúcar e melaço importado das Índias
Ocidentais Britânicas e combateu com mais eficiência o comércio ilegal, reduzindo
o estímulo ao contrabando. Como os comerciantes norte-americanos viram-se
forçados a importar legalmente das Índias Ocidentais Britânicas (que, assim,
foram beneficiadas pela medida), muitos passaram a pagar taxas pela primeira
vez. A Lei da Receita também foi aplicada sobre outros produtos, como o café,
vinho, seda e linho.
1765.
Lei do Selo (Stamp Act). Obrigou a colocação de selos (estampilhas) que os colonos teriam que
adquirir sobre jornais, panfletos, cartas de baralho, contratos e diversos documentos.
Ao contrário da Lei do Açúcar, que havia incomodado principalmente os
negociantes das colônias do norte, a Lei do Selo atingiu todas as Treze
Colônias, sobretudo os grupos que mais influenciavam a opinião pública –
comerciantes, tipógrafos, advogados, donos de tavernas, ou seja, a “burguesia”
e a “pequena burguesia” urbana colonial. A organização secreta Filhos da
Liberdade foi criada por esses grupos para disseminar a resistência nas
cidades por meio da propaganda panfletária e, como último recurso, encorajando
ações populares mais violentas contra os que apoiassem o Stamp Act . O advogado
americano, John Otis, afirmando que “a taxação sem representação era tirania”,
lançou o famoso lema “nenhuma taxação sem representação”, que podia ser
interpretado como a reivindicação da eleição de deputados para representar os
colonos no Parlamento em Londres, ou como a reivindicação de que somente as
assembléias coloniais poderiam estabelecer tributos. Um Congresso da Lei do
Selo reuniu-se em Nova York
(1765), com representantes de 12 colônias (menos a Geórgia), pedindo a
revogação da medida, embora deixando claro sua lealdade ao rei. No final, os
colonos decidiram boicotar as mercadorias britânicas. O governo – e os
empresários – da Grã-Bretanha foram surpreendidos por essa reação, o que levou
o novo primeiro-ministro, Rockingham (substituto de Grenville) e o Parlamento a
revogarem a Lei do Selo, em 1766.
■ 1767. Leis Townshend. Medidas do chanceler (ministro) do Tesouro ou Erário,
Charles Townshend, estabelecendo novos impostos sobre vários produtos (chá,
vidro, tinta, papel) para custear não só as despesas militares mas também pagar
as autoridades reais nas colônias, que deixariam de depender financeiramente da
anuência das assembléias coloniais. A nova legislação também aumentou o poder
dos funcionários alfandegários. Essa medidas implicavam claramente no enfraquecimento
das assembléias e geraram mais protestos e boicotes, em um clima de tumultos e
crescente violência nas cidades, sobretudo em Boston, capital da colônia de
Massachusetts. As agitações assumiram dimensões populares, envolvendo a “plebe
urbana” (artesãos, lojistas, assalariados pobres) liderada por radicais como
Samuel Adams, em um movimento que muitas vezes não era apenas antibritânico mas
também antielitista, assustando as classes altas da colônia. A tensão culminou
em um incidente, em março de 1770, entre soldados britânicos e colonos no Massacre
de Boston, quando cinco americanos foram mortos, episódio que foi bastante
explorado pela propaganda antibritânica de Adams. Em uma última tentativa de
conciliação, o novo primeiro-ministro, Lord North, revogou as tarifas de Townshend,
com exceção da que recaía sobre o chá.
1773. Lei do Chá (Tea
Act). O governo de North havia
revogado as Leis Townshend mas manteve a tarifa sobre o chá. Isso surtiu pouco
efeito na arrecadação em função do intenso contrabando de chá holandês, que
concorria ilegalmente com o produto vendido pela Companhia das Índias
Orientais, empresa britânica em dificuldades. O Tea Act reduziu as tarifas alfandegárias do
chá da companhia, na Grã-Bretanha, barateando-o, e permitiu que ela o vendesse
diretamente nas Treze Colônias, nomeando os seus próprios representantes
encarregados da venda. A medida prejudicou os interesses dos mercadores
americanos e ameaçou estabelecer o monopólio britânico no comércio de chá. Os
tumultos retornaram nas grandes cidades portuárias e novamente Boston
demonstrou ser o centro das reações mais radicais. Em dezembro de 1773, ocorreu
a Festa do Chá de Boston (Boston Tea Party), quando
colonos disfarçados de índios mohawks atiraram ao mar o carregamento de chá dos
navios da Companhia das Índias Orientais atracados no porto da cidade. Ações
semelhantes ocorreram em
Nova York e em outros locais, mas a de Boston convenceu as
autoridades britânicas que Massachusetts era o centro de uma rebelião, exigindo
uma punição.
1774. Leis Intoleráveis. Ou Leis Coercitivas, conjunto de medidas com o
objetivo de punir a colônia de Massachusetts e fortalecer a autoridade britânica.
O porto de Boston ficaria fechado até que a Companhia das Índias Orientais
fosse indenizada e a ordem restabelecida; os poderes da assembléia de
Massachusetts foram reduzidos; o governador passaria a nomear os juízes e
xerifes; as reuniões públicas estavam proibidas nas cidades; o general Thomas
Cage, comandante-chefe da América do Norte, foi nomeado governador e as tropas
britânicas teriam o direito de ocupar residências particulares; oficiais britânicos
não poderiam ser julgados pelas cortes locais mas enviados para julgamento na
metrópole; e pela Lei do Quebec, essa colônia teria um governo centralizado sem
assembléia. As Leis Intoleráveis, apesar de dirigidas contra Massachusetts,
causaram indignação em todas as colônias e precipitaram uma rebelião
generalizada contra o governo britânico.
2. A
REVOLUÇÃO AMERICANA (1774-1787)
A Revolução Americana
foi o movimento político de criação dos Estados Unidos da América (EUA), sob a
forma de uma república liberal, a partir da independência das Treze Colônias
britânicas na América do Norte – o primeiro país do continente americano que
conseguiu se livrar do colonialismo europeu e constituir um Estado soberano. A
revolução foi um marco no nascimento do mundo contemporâneo e no
desenvolvimento do liberalismo, inaugurando a “Era das Revoluções Liberais” no
Ocidente.
2.1 MOTIVOS E
FASES
A Revolução Americana
foi resultado da crise do antigo sistema colonial – a incapacidade de
conciliação entre os interesses da metrópole e os interesses dos colonos no
âmbito da tradicional estrutura colonial mercantilista. A crise foi mais
precoce nas Treze Colônias britânicas, manifestando-se antes de sua eclosão na
América Latina em função de três fatores: o desenvolvimento de uma estrutura econômica
e política colonial relativamente autônoma, o impacto da Guerra dos Sete Anos e
os problemas derivados da Nova Política Colonial britânica. A Revolução pode
ser dividida em três fases: a rebelião ou revolução conservadora (1774-1775), a
guerra de independência (1775-1783) e a organização dos EUA (1783-1787).
a) A Rebelião
das Treze Colônias (1774-1775): a “revolução conservadora”
Nessa fase inicial,
os colonos se rebelaram contra a Nova Política Colonial, mas ainda não lutavam
pela independência. De uma maneira geral, as Treze Colônias aceitavam ser parte
do Império Britânico, mas queriam a restauração da tradicional autonomia e
liberdades ameaçadas pelos impostos e intervencionismo da metrópole. O lema
dessa fase da revolução era “Nenhuma taxação sem representação”, ou seja,
apenas um órgão legislativo com representantes dos colonos poderia tributá-los.
Esse órgão deveriam ser as assembléias coloniais ou o próprio Parlamento
britânico, desde que contasse com deputados eleitos pelas Treze Colônias.
A divisão dos
colonos
Apesar da
insatisfação generalizada com as medidas britânicas, os colonos ficaram
divididos quanto ao que fazer de sua relação com a metrópole. Muitos estavam
confusos ou indiferentes. De uma maneira geral, formaram-se dois grupos
políticos:
Os realistas ou
legalistas. Também
chamados de “tories”, eram os colonos que insistiam em manter
a união com a Grã-Bretanha por serem mais comprometidos com o sistema colonial,
mais presos aos laços sentimentais com a metrópole e mais assustados com a
violência das agitações populares. Compunham 20% dos colonos.
Os patriotas. Eram os colonos favoráveis à independência,
que acabaram se tornando maioria. Estavam por sua vez subdivididos em duas
facções, os conservadores e os radicais. Os patriotas conservadores eram formados
pelos colonos mais ricos (grandes proprietários rurais, grandes mercadores),
dominavam as assembléias e queriam evitar a perda dos seus privilégios (como o
voto censitário) ou uma revolução social (como o fim da escravidão).
Inicialmente sua posição política era de tendência realista, ainda que
insistindo na autonomia das colônias, mas passaram a defender o separatismo na
medida em que seus interesses eram contrariados pela metrópole, além de considerarem
necessário apoiar o movimento de independência para reduzir a influência dos
radicais. Os patriotas radicais eram constituídos pelos pequenos proprietários
rurais, a pequena burguesia urbana e os trabalhadores assalariados, defendiam a
democracia e um governo mais voltado aos interesses das camadas populares.
Constituíam 45% dos colonos (outros 35% tentaram permanecer neutros).
A
intensificação do confronto entre colonos e metrópole
1774. O
Primeiro Congresso Continental. Para coordenar a luta contra a Grã-Bretanha, os colonos resolveram
estabelecer o Congresso Continental, um congresso ilegal com representantes de
12 colônias (a Geórgia inicialmente não participou), reunido em setembro de
1774, que se transformou em uma assembléia geral revolucionária das Treze
Colônias. O Congresso não propôs a independência e considerou os americanos
súditos do rei, mas negou ao Parlamento o direito de tributar as colônias e
decidiu pelo boicote do comércio com a metrópole. Comissões foram criadas nas
cidades e condados para divulgar e garantir essa resolução. Em geral
constituídas por radicais, essas comissões acabaram difundindo o ideal
revolucionário entre os colonos, que passaram a se armar e formar milícias de
minutemen (tropas irregulares ou não-profissionais, em geral pequenos
proprietários rurais). Mas as posições anti-separatistas e indiferentes
continuaram prevalecendo.
1775. O
confronto em Lexington.
As atitudes moderadas e de conciliação foram superadas pela evolução dos
acontecimentos em Massachusetts, o centro da crise colonial. Em 19 de abril de
1775, tropas britânicas entraram num sangrento choque com os minutemen em
Lexington e Concord, nas cercanias de Boston. Os radicais rapidamente
exploraram o fato, difundindo informações exageradas sobre o acontecimento que
resultaram em uma série de ações violentas contra os britânicos (derrubada de
governadores, tomada de fortes e depósitos de armas etc).
1775. O
Segundo Congresso Continental. Reunido rapidamente na Filadélfia, em maio, para tratar dos
acontecimentos de Lexington e seus desdobramentos, com delegados de todas as 13
colônias (a Geórgia relutou a participar no início mas acabou aderindo). O Congresso
decidiu organizar a defesa transformando as milícias em um Exército
Continental, financiado pelos colonos. George Washington,
líder conservador da Virgínia, foi nomeado seu comandante. Muitos hesitavam
ainda quanto a independência, mas o conflito armado se alastrou. Em 17 de junho
de 1775 ocorreu perto de Boston um outro e mais violento confronto entre
britânicos e colonos – a Batalha de Bunker Hill. Num gesto final de tentativa
de conciliação, o Congresso aprovou em julho a Petição do Ramo de Oliveira,
confirmando que as colônias eram leais ao rei e apelando ao monarca por uma
solução pacífica. Foi inútil e, em agosto, o rei George III proclamou que as
colônias estavam em estado de rebelião.
b) A Guerra de
Independência dos EUA (1775-1783)
A guerra entre as
colônias e sua metrópole estourou em abril de 1775 depois do choque entre os
colonos e os britânicos em Lexington.
Janeiro 1776.
"O Bom Senso".
A idéia de independência ganhou força com a publicação e a rápida divulgação do
folheto Bom Senso ou Senso Comum (Common Sense) de Thomas Paine,
radical britânico e simpatizante dos colonos, que condenou o rei e defendeu a
instituição de uma república pelos americanos.
4 de julho de
1776. “Declaração de Independência”. Na verdade, foi a declaração das razões da independência (que tinha
sido oficialmente aprovada dois dias antes e incorporada ao novo documento).
Elaborada por uma comissão encabeçada por Thomas Jefferson,
inspirou-se nas tradições políticas inglesas (liberais), afirmando que o
governo é instituído pelos homens para proteger os direitos a vida, liberdade e
busca da felicidade; que quando esses direitos são ameaçados por um governo
tirânico e opressor, o povo tem o direito de se rebelar contra ele e
estabelecer um novo governo.
O apoio
internacional. Já no
primeiro ano da guerra alguns voluntários da nobreza européia (como o francês
Marquês de Lafayette) lutaram ao lado dos colonos. Oficialmente, os americanos
negociaram com os governos europeus um apoio mais direto. Nessas negociações
destacou-se Benjamin Franklin, embaixador em Paris. Depois da importante
vitória das forças americanas sobre os britânicos na Batalha de Saratoga, em
Nova York (outubro 1777) foi possível a aliança com a França,
que reconheceu a independência dos EUA (fevereiro 1778) e entrou em guerra com
a Grã-Bretanha (junho 1778). Os franceses enviaram um exército para a América,
participando decisivamente dos combates. A Espanha e a Holanda
também ajudaram os americanos e entraram na guerra contra a
Grã-Bretanha em 1779 e 1780, respectivamente. Por sua vez, os países neutros da
Europa, liderados pela Rússia, se comprometeram em defender a “liberdade dos
mares” contra as ações britânicas que visavam bloquear o comércio americano. A
Grã-Bretanha ficou, assim, isolada.
Setembro-outubro
1781. A Batalha de Yorktown e o fim da guerra. Na Batalha de Yorktown, na Virgínia, os
franceses e os americanos obtiveram uma vitória decisiva sobre os britânicos,
levando-os à capitulação. Embora os britânicos continuassem ocupando a cidade
de Nova York até 1783, para todos os efeitos a Grã-Bretanha havia perdido a
guerra nas Treze Colônias.
Baixas. Durante o conflito, Londres utilizou 20 mil soldados britânicos e 11
mil mercenários alemães, principalmente do principado de Hesse-Kassel (os
“hessenianos”), apoiados por pelo menos 25 mil colonos realistas. Essas forças
enfrentaram 20 mil americanos do exército regular e 230 mil milicianos (nunca
mais de 90 mil colonos de uma vez), apoiados por 15 mil franceses e 8 mil
espanhóis (a Holanda contribuiu mais com navios). Cerca de 20 mil negros
lutaram ao lado da Grã-Bretanha e 5 mil nos exércitos revolucionários. A
maioria dos índios apoiou os britânicos: 13 mil guerreiros nativos, entre os
quais 5.000-1.500 iroqueses. Os americanos perderam 25 mil soldados (8 mil em
combate, 17 mil de doenças, entre eles 10 mil enquanto prisioneiros dos
britânicos) e tiveram outros 25 mil feridos. Os franceses perderam 850 soldados
e os espanhóis 475. Do lado britânico foram 24 mil mortos (incluindo 5.700
hessenianos e 3.200 legalistas) e 20 mil feridos. O número de colonos civis
mortos pode ter chegado a 30 mil. Com a vitória dos patriotas, cerca de 80 mil
legalistas emigraram para o Canadá, as Índias Ocidentais e a Grã-Bretanha.
O Tratado de
Paris (setembro, 1783).
Com a assinatura do Tratado de Paris, a Guerra de Independência dos EUA foi
encerrada formalmente. A Grã-Bretanha reconheceu a independência dos EUA e o
direito do novo país ficar com os territórios a leste do Mississipi (vale do
Ohio). A Guerra de Independência dos EUA implicou na maior derrota da história
britânica. Mas a Grã-Bretanha conseguiu continuar dominando o Canadá e as
Índias Ocidentais no Caribe.
c) A organização
dos EUA (1781-1787)
Os Artigos da
Confederação (1781-1787).
Formalmente, em 1776, as Treze Colônias tinham se transformado em uma
confederação, quer dizer, em uma associação voluntária de treze Estados
soberanos com um órgão político comum (o Congresso Continental), composto por
representantes de cada Estado. Como era de se esperar, os Estados preservaram
uma ampla autonomia. Em 1777, o Congresso Continental aprovou os Artigos
ou Estatutos da Confederação, que só foram ratificados em 1781.
Oficialmente, os Artigos estabeleciam a Confederação dos Estados Unidos da
América, sem um governo central, mas com um Congresso encarregado de assuntos
de interesse comum dos estados como a gestão da política externa (inclusive a
guerra), das relações com os índios, das finanças, da moeda, dos serviços
postais, dos padrões de peso e medidas e da arbitragem das relações entre os
estados. Mas não havia um poder executivo centralizado e a grande autonomia dos
estados-membros limitou bastante os poderes do Congresso, que não podia criar
impostos ou convocar tropas sem a aprovação dos legislativos estaduais.
Rigorosamente falando, os Artigos da Confederação foram foi a primeira
constituição dos EUA, mas muitos a consideram uma solução de emergência, uma
espécie de legislação geral transitória para o que seria, de fato, a primeira
constituição do país, a de 1787.
A
Constituição de 1787. A
organização política original dos EUA em 1781-1787 – a Confederação e seus
Artigos – acabou demonstrando ser por demais descentralizada e incapaz de
resolver os problemas financeiros e comerciais gerados pela Guerra de
Independência, como a questão da dívida pública e as dificuldades de
estabelecer acordos de comércio com outros países. A estrutura da Confederação
também parecia ser muito fraca para lidar com questões de segurança nacional que
exigiam uma defesa mais rigorosa. O resultado foi o crescimento do movimento
pela revisão dos Artigos da Confederação e pela criação de uma nova organização
política, com um governo central capaz de assegurar o máximo de liberdade dos
cidadãos e de autonomia dos estados. Em março de 1787, uma convenção com
delegados estaduais especialmente eleitos se reuniu na Filadélfia e elaborou,
em setembro, a Constituição dos EUA. Aprovada pelos estados em
1787-1788, ela entrou em vigor em março de 1789 e até hoje continua vigorando
(com o tempo recebeu acréscimos ou emendas de novos artigos). A Constituição de
1787 substituiu os Artigos da Confederação e buscou compatibilizar o poder
central e os poderes estaduais, assim como estabelecer os mecanismos capazes de
preservar os direitos individuais frente aos direitos públicos ou coletivos.
Inspirada no Iluminismo, a Constituição criou nos EUA um regime liberal sob a
forma de uma república presidencialista com três poderes (executivo,
legislativo e judiciário), garantindo, porém, a maior autonomia estadual
possível.
– Executivo. Encabeçado pelo presidente, que é o chefe de
Estado e de governo. Com mandato de 4 anos (podendo ser reeleito), ele é eleito
indiretamente por um Colégio Eleitoral composto por delegados escolhidos pelos
cidadãos.
– Legislativo. O Congresso, formado por duas câmaras, a Câmara dos
Representantes (deputados eleitos diretamente por 2 anos, proporcionais aos
habitantes de cada Estado) e o Senado (2 senadores por Estado).
– Judiciário. A Corte Suprema, com membros apontados pelo presidente,
encarregada de solucionar os problemas legais e constitucionais.
– A autonomia
estadual. Por exemplo, a
questão da abolição ou conservação da escravidão seria resolvida por cada
estado. Os estados do norte aboliram a escravidão, favorecendo o
desenvolvimento de uma sociedade livre, capitalista, industrial e moderna. Os
estados do sul preservaram a escravidão, conservando a estrutura agrária tradicional
de origem colonial.
3. A PRESIDÊNCIA DE GEORGE WASHINGTON (1789-1797)
■ Construção da
capital, Washington, no Distrito de Colúmbia (antes tinha sido Filadélfia e
Nova York).
■ Lançamento dos
fundamentos da política externa dos EUA que predominaria até o início do século
XX: a neutralidade e isolacionismo nas questões internacionais, sobretudo em
relação à Europa.
BIBLIOGRAFIA
SELLERS, C., MAY H. e MCMILLEN, N. Uma
Reavaliação da História dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar
Editor, 1990. Excelente obra sobre
a história dos EUA. Inclui análises da historiografia dos momentos mais famosos
da história americana.
QUESTÕES DE REVISÃO
(VEJA TAMBÉM AS POSTAGENS 63 E 46)
1. O
que foram as Revoluções Ocidentais?
2. Explique
as razões da crise do Antigo Sistema Colonial.
3. Descreva
a negligência colonial britânica em suas colônias na América do Norte.
4. Compare
as regiões norte e sul das Treze Colônias britânicas apontando suas semelhanças
e diferenças.
5. Explique
os conflitos coloniais entre britânicos e franceses na América do Norte.
6. Explique
as consequências da Guerra dos Sete Anos na América do Norte.
7. Descreva
a Nova Política Colonial Britânica.
8. Discorra
sobre a Revolução Conservadora na fase inicial da Revolução Americana.
9. Descreva
a influência das ideias políticas britânicas na Revolução Americana.
10. Descreva
as ideias centrais da Declaração da Virgínia e da Independência dos EUA.
11. Explique
o papel da França na revolução Americana.
13. Descreva
a Constituição Americana de 1787.
Nenhum comentário:
Postar um comentário