quarta-feira, 22 de outubro de 2014

53 - Texto: México no século XIX


O MÉXICO

A INDEPENDÊNCIA DO MÉXICO (1810-1821)

O movimento de independência do Vice-Reino da Nova Espanha (México) foi iniciado por uma revolução camponesa de índios e mestiços liderados por Hidalgo e Morelos. Contudo, a independência só triunfou quando contou com o apoio dos criollos, liderados por Iturbide.

1810-1814. A Revolta de Hidalgo e Morelos. O México foi palco do movimento mais popular e radical do período na América espanhola, caracterizado por uma insurreição das massas camponesas indígenas e mestiças, lideradas pelos padres Hidalgo e Morelos. Hidalgo foi o primeiro líder. Afirmou agir em nome de Fernando VII mas na prática defendeu a expulsão dos espanhóis, a abolição dos tributos indígenas e a devolução de suas terras. O movimento transformou-se em uma guerra racial e os brancos (peninsulares e criollos) foram massacrados nas áreas controladas pelos rebeldes. Os espanhóis conseguiram capturar Hidalgo e o fuzilaram, em 1811. A luta continuou sob a liderança de Morelos, que abandonou a lealdade a Fernando VII e proclamou uma república independente com direitos iguais para todos e um plano de reforma agrária. Morelos também foi capturado e executado pelos espanhóis (1815).

1815-1821. A resistência guerrilheira e a independência do México. Depois do fracasso da Revolta de Hidalgo e Morelos, grupos rebeldes continuaram resistindo com uma luta de guerrilha, liderados por Vicente Guerrero e Guadalupe Victoria. O movimento de independência parecia ter pouca chance de triunfar. Os criollos estavam divididos e a facção conservadora prevalecia, defendendo a monarquia e os privilégios do clero e dos militares. O principal comandante do exército era um criollo conservador, Agustín de Iturbide, que estava preparando-se para sufocar a guerrilha anti-espanhola quando a Revolução Liberal de 1820 estourou na metrópole. A revolução, que visava reduzir a autoridade do rei, eliminar os privilégios do clero e dos militares (os tribunais especiais) e confiscar os bens da Igreja, assustou os conservadores. Temendo que as medidas revolucionárias fossem aplicadas na colônia, Iturbide e os conservadores mudaram de posição e passaram a apoiar a independência, buscando um acordo com os rebeldes. O resultado foi o Plano de Iguala (24 fevereiro 1821), um compromisso entre as lideranças criollas (Iturbide) e indígenas e mestiças (Guerrero) que proclamou a independência do México. Buscando conciliar interesses conservadores e liberais, o Plano estabeleceu as “três garantias”, que seriam protegidas pelo exército: (I) o México seria uma monarquia independente com um monarca europeu, de preferência da dinastia espanhola; (II) mexicanos (criollos, mestiços e índios) e peninsulares teriam direitos iguais; (III) a Igreja Católica manteria seus privilégios. Em setembro de 1821, a Espanha reconheceu a independência da sua colônia mais importante. Contudo, na ausência de um monarca europeu, Iturbide acabou assumindo o trono mexicano em 1822-1823 com o título de Augustin I. Iturbide tentou também dominar as colônias espanholas da América Central (1821), mas elas acabaram se separando do México para constituírem, em 1823, as Províncias Unidas Centro-Americanas (em 1838, essa federação centro-americana se fragmentou nas pequenas repúblicas da Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica). Augustín I não conseguiu apoio suficiente para se manter (o exército ficou dividido) e foi derrubado pelos militares. O México virou uma república, presidida por Guadalupe Victoria (1824-1829).


MEIO SÉCULO DE INSTABILIDADE POLÍTICA (1823-1876)

Com sua independência e o fracasso da monarquia de Itúrbide, o México passou quase meio século mergulhado na instabilidade política caracterizada por golpes de Estado, guerras civis e violentas disputas entre liberais (defensores de um Estado laico e da isonomia) e conservadores (defensores da união Estado-Igreja e de foros ou tribunais especiais para o clero e militares). Consequentemente, esse quadro instável atrasou o desenvolvimento econômico mexicano, aumentando a pobreza no país, além de deixar o México enfraquecido e vulnerável a ataques e invasões estrangeiras, resultando em perda de territórios para os EUA.

1830-1855. Predomínio dos conservadores. Destaque para o governo autoritário do general Antonio López de Santa Anna, presidente em várias ocasiões em 1833-1855. Foi nessa época que o Texas separou-se do México e o país perdeu territórios para os EUA na Guerra de 1846-1848.

1854-1855. Revolução de Ayutla. Revolução liberal liderada por Benito Juarez contra Santa Anna, que foi derrubado.

1855-1857.“La Reforma”. Reformas liberais que tentaram modernizar o México e desenvolver o capitalismo:

abolição dos foros (tribunais especiais) clericais e militares;

educação secular;

as terras comuns das comunidades aldeãs indígenas (ejidos) foram transformadas em pequenas propriedades privadas camponesas. Objetivo de criar uma camada de pequenos proprietários prósperos para dinamizar a agricultura. Fracassou: camponeses empobrecidos venderam ou perderam  suas terras para os latifundiários, que foram beneficiados;

Constituição de 1857: Estado laico, liberalismo

1857-1861. Nova guerra civil entre liberais e conservadores. Radicalização dos liberais (1859): nacionalização/confisco das terras e outros bens da Igreja. Liderados por Juarez, os liberais venceram a guerra civil.

1861-1872. Governo de Benito Juarez. Crise financeira e moratória da dívida externa. Em represália, França, Grã-Bretanha e Espanha atacaram o México. Os conservadores fizeram aliança com a França (Napoleão III) pela qual os franceses invadiriam o México para impor uma monarquia com um rei europeu, apoiada pelos conservadores e protegida pelo exército francês. Para Napoleão III, que desejava estabelecer a hegemonia da França na América Latina, foi uma oportunidade única porque os EUA estavam em guerra civil e não poderiam aplicar a Doutrina Monroe. De acordo com o projeto francês-conservador, o México seria uma espécie de “semicolônia” ou dependência da França. Os franceses invadiram o México (1862), mas Juarez escapou e organizou uma guerrilha com apoio dos EUA.

1864-1867. Monarquia do imperador Maximiliano I Habsburgo. Maximiliano não aboliu as reformas liberais, perdeu apoio dos conservadores e não conseguiu apoio dos liberais. A França acabou retirando suas tropas por causa das pressões dos EUA (com o fim da guerra civil) e a ameaça de guerra na Europa. Juarez e os liberais recuperaram o poder, derrubaram a monarquia e executaram Maximiliano.

O “PORFIRIATO”: GOVERNO DO GENERAL PORFÍRIO DIAZ (1876-1911)

Depois da morte de Juarez (1872), a luta pelo poder continuou até o general Porfírio Diaz (um dos heróis nacionais na guerra contra os franceses) conseguir ser eleito presidente. Diaz instalou um governo autoritário influenciado pelo positivismo (ideal de um governo forte ou ditatorial capaz de modernizar o país). Por meio da força, corrupção e manipulação de eleições, Diaz perpetuou-se no poder, assegurando ao México estabilidade política, desenvolvimento econômico, modernização e expansão do capitalismo dependente (exportação de matérias-primas, dependência do capital estrangeiro). O porfiriato beneficiou os latifúndios e os investimentos estrangeiros, sobretudo dos EUA na mineração. A indústria petrolífera mexicana emergiu nessa época. No entanto, no início do século XX, com o crescimento populacional e o aumento das desigualdades e da pobreza rural, cresceu a oposição ao porfiriato: grupos liberais, pressão por reformas democráticas e agrária, ascensão do movimento operário e sindical. Em 1910 eclodiu a Revolução Mexicana, um movimento popular que deixou o México mergulhado em uma década de guerra civil, culminando na instalação de um regime democrático.

 

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